sexta-feira, 30 de maio de 2008

O meu Rodin...


... na Alten Nationalgalerie, Berlim.

"If I could make the world as pure and strange as what I see"

Para ver e ouvir aqui. Pale Blue Eyes, by Lou Reed.

Sometimes I feel so happy,
Sometimes I feel so sad.
Sometimes I feel so happy,
But mostly you just make me mad.
Baby, you just make me mad.
Linger on, your pale blue eyes.
Linger on, your pale blue eyes.

Thought of you as my mountain top,
Thought of you as my peak.
Thought of you as everything,
I've had but couldn't keep.
I've had but couldn't keep.
Linger on, your pale blue eyes.
Linger on, your pale blue eyes.

If I could make the world as pure and strange as what I see,
I'd put you in the mirror,
I put in front of me.
I put in front of me.
Linger on, your pale blue eyes.
Linger on, your pale blue eyes.

Skip a life completely.
Stuff it in a cup.
She said, Money is like us in time,
It lies, but can't stand up.
Down for you is up."
Linger on, your pale blue eyes.
Linger on, your pale blue eyes.

It was good what we did yesterday.
And I'd do it once again.
The fact that you are married,
Only proves, you're my best friend.
But it's truly, truly a sin.
Linger on, your pale blue eyes.
Linger on, your pale blue eyes.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

I'm not a perfect woman

No outro dia, ao almoço, no museu, chegou-se a essa conclusão (fantástica!) de que isso de deixar a cozinha para arrumar de um dia para outro "por favor, é um nojo"! Por causa disso, deixei hoje o Damisch aqui ao lado (com o fabuloso título "L'Amour m'expose") e agora tenho as mãos a cheirar a lixívia. Por causa disso compreendo Virginia Wolf. Por causa disso passo muitas horas de almoço calada e faço bem. Por causa disso, às vezes, dá-me uns ataques de superioridade, de arrogância. Que isso, de deixar a cozinha por arrumar, a loiça no lava loiças... Ai, ai.
Na verdade isso irrita-me. Irrita-me não conseguir ler Damisch em francês e arrumar a loiça na máquina ao mesmo tempo. Irrita-me não conseguir, ao mesmo tempo, trabalhar a tempo inteiro, fazer a tese de mestrado, ser uma excelente dona de casa com a roupa sempre passada e a cozinha arrumada, sair com os amigos, namorar, ir ver as coisas (coisas???) do Alkantara... Mas eu balanço, eu não aguento. Eu não cedo.
A loiça desarrumada é coisa antiga. Antiga demais. Na verdade foi um dos primeiros sinais do divórcio dos meus pais. Deixaram de tratar um do outro. Eu não trato de ti. Tu não tratas de mim. A loiça acumula e eu ali a vê-la crescer na cozinha com azulejos de desenhos verdes, com armários verdes. Cá em casa é igual. Acumula. Acumula-se. Acumulamo-nos. Será algum sinal?
O meu pai irritava-se profundamente com esta minha mania, de não resolver, de não arrumar, de deixar tudo espalhado. De manhã, como sempre à pressa, deixava o púcaro onde aquecia o leite por lavar. O meu pai não suporta isso, mas agora eu já não vivo lá.
Estou a escrever sobre isto. É que na verdade gostava de ser arrumada, na cozinha e na cabeça... Mas é tudo uma confusão... E eu não consigo... Vacilo e dou por mim com o Damisch. Ou então dou por mim aqui a escrever isto. Ou então penso que não consigo arrumar a casa, nem comprar móveis porque tudo é precário e eu não estou preparada para coisas definitivas (é por causa disso que não me pedes em casamento, porque também não estás preparado? Para o definitivo, digo.)
E tenho outros defeitos, que não fazem de mim a mulher perfeita, nem de perto nem de longe: não uso lingerie sexy, não durmo nua, uso óculos quando tiro as lentes (e agora, este maldito cheiro nas mãos).
Vou-me embora. Tentar escrever por outras paragens. Mais úteis, que ninguém lê este blog!

domingo, 25 de maio de 2008

Kunst/Lust




...ainda de Berlim. Entre a arte (kunst) e o desejo (lust), duas faces da mesma moeda. Kunst, do lado da ilha dos museus. Lust, do outro.

sábado, 24 de maio de 2008

Encontrei isto...

"Encontrei isto: "Existem condições em que é concebível estar em dois lugares, ou em lugar absolutamente nenhum."

Eu também encontrei! Mais uma vez, Andrew Renton a escrever para e sobre Ângela Ferreira ("Em Sítio Algum", Museu do Chiado, 2003")

e mais (do mesmo):
"O objecto e o (eu/tu) espectador encontram-se de alguma forma em trânsito. De alguma forma atrasados.
... porque chegamos sempre tarde ao objecto."

(sublinhados meus, a bem do academicamente correcto. Vícios de quem tenta esboçar uma tese de mestrado.)

sábado, 17 de maio de 2008

Três livros na minha mala


Ontem, por acaso ou talvez não, andei com estes três livros atrás. Da Ana Teresa Pereira já sabiam. Há livros que levam a outros. Ibsen. Este levar-me-ia a Ibsen. Mas por questões práticas, não levou. Depois de ter levantado um conjunto de DVd's muito em conta com as óperas de Mozart, pelas Marionetas de Salzburgo (ossos do ofício), lá fui à secção de teatro à procura de Ibsen ou talvez das peças de Henry James. Ibsen era caro e Henry James nem existia, mas havia um livro perdido... Um livrinho de teatro (como se chama a colecção) de José Maria Vieira Mendes. Como já tinha visto "Onde vamos morar" (obrigada, mãe), comprei. Não me arrependi, mas confesso que sou uma fraca leitora do teatro e talvez pouco exigente. Mas também talvez não...

"GABRIELA Não te posso dizer.
Não te posso responder. Não sei.
Não faças perguntas. Não vale a pena.
Não olhes assim para mim.
Não digas que não estavas à espera. Nâo digas nada.
Não olhes assim para mim. Porque é que estás a olhar assim para mim?
Não fiques aí parado.
Não, não me toques. Não vale a pena.
Não tenho pena de ti.
Não estou a olhar para ti. Não te estou a ouvir, não te vou ouvir.
Vais ver que não custa nada. Não digas nada.
Já não estou aqui. Não vala a pena. Já não estou aqui.
Não sei quando vou voltar. Não sei se vou. Não sei se vou voltar.
também não interessa. Não faças essa cara.
Já está a ficar tarde. Que horas são? Já está a ficar tarde.
Tenho de me ir embora. O comboio. Depois fica escuro.
Tenho de ir já.
Não digas nada.
Ficas a tomar conta do teu pai, ficas a tomar conta de ti,
ficas sozinho
eu não me importo
não tenho pena, não tenho pena nenhuma e tu sabes isso.
porque é que estás a fazer essa cara? sabes isso.
Não me interessas. Deixaste de me interessar. Já há muito
tempo. Tiraste-me o apetite, acordo enjoada, não consigo
dormir, sabes isso
e já não há nada
e fazes-me triste e não consigo olhar para ti
não consigo ouvir-te nem quero que faças essa cara
não vale a pena. Arranja outra pessoa, não sei, faz qualquer coisa.
A mim não me interessa. Não sei se volto. Se calhar não volto.
Já está a ficar tarde. tenho de ir.
Não foi tudo mau. Se calhar devia dizer isto. Não foi tudo mau.
Não tenho grande vontade de dizer não foi tudo mau, mas se calhar devia.
Já disse. Mas tu fazes-me mal.
Se calhar também vou ter saudades.
Mas tu não percebes. Ou então percebees.
O mais provável é perceberes. Mas não dizes. Nunca disseste.
VÍTOR Cala-te
"

Ele escreve isto. E só tem menos ano que eu! Mas parece que é verdade, que é assim.

Quanto ao "Ser feliz é imoral?", é um livro que já tenho há seis anos e que de vez em quando volto a respigar. Agora, e muito a propósito, calhou isto:

"Sobre a catarse, o mais vulgarizado critério defende que a virtude catártica se exerce sobre os sentimentos e as emoções de terror e de piedade, mas não é nunca uma purga, porque, se assim fosse, a tragédia apenas serviria para eliminar os próprios efeitos. Porventura poderá haver, na catarse, uma purificação. Um outro efeito em potência na tragédia, e viável pela catarse, é o efeito criador e regenerador. É uma causa-efeito de constituição da comunidade. A este propósito, as obras do encenador jorge Silva Melo com os Artistas Unidos (...) são exemplares. Através delas, as comunidades vão-se constituindo a partir do que é potência em cada um dos sujeitos e que se pode tornar aglomerador de grupos, segundo uma comunicação a nível emotivo e afectivo."

Hoje à noite vou ver isto: KAMP.
Se estiverem deprimidos podem ver o vídeo do post de baixo.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Dance With Me - O que eu oiço, em repeat

Oiço isto em repeat, parte 2

Nouvelle Vague, Dance with me

Let's dance little stranger
Show me secret sins
Love can be like bondage
Seduce me once again

Burning like an angel
Who has heaven in reprieve
Burning like the voodoo man
With devils on his sleeve

Won't you dance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility

Like an apparition
You don't seem real at all
Like a premonition
Of curses on my soul

The way I want to love you
Well it could be against the law
I've seen you in a thousand minds
You've made the angels fall

Won't you dance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility

Come on little stranger
There's only one last dance
Soon the music's over
Let's give it one more chance

Won't you dance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility

Take a chance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility

"Certas coisas, mais vale recordá-las..."

Por causa da tese fui dar com um catálogo da Ângela Ferreira. É de uma exposição no Museu do Chiado, em 2003, com textos de Pedro Lapa e Andrew Renton e chama-se: "Ângela Ferreira, Em Sítio Algum". Andrew Renton (que também é o comissário da exposição "Come, come, come into my world", da Ellipse) publica no catálogo alguns textos/cartas que, na altura, trocou com a artista. Gostei deles.

"Certas coisas, mais vale recordá-las... Digo isto da mesma maneira que costumamos dizer que certas coisas, mais vale esquecê-las; poderíamos estar a falar de história, ou coisa assim. Mas certas coisas ganham em ser recordadas. Ou seja, em serem mais bem recordadas. Melhoradas pelo esquecimento.
O esquecimento permite um tipo de recontar que reclama a posse de um passado puramente em termos de presente. É uma história ficcional, sim, mas que constantemente se reconstitui, em nome de um objecto perdido."

segunda-feira, 5 de maio de 2008

um livro...


Fui comprar um livro da Ana Teresa Pereira. Não é dos últimos. "O Mar de Gelo" foi publicado em 2005. Tem na capa um quadro de Friedrich, com o mesmo nome do livro. É também o quadro que António Pinto Ribeiro via como sendo a imagem que anunciava o século XX (no blogue do "Estado do Mundo"). As capas dos livros da Ana Teresa Pereira têm sempre quadros dos meus pintores favoritos: os pré-rafaelitas, Rothko. Os livros dela também são os meus favoritos.
Há sempre uma mulher, um homem, uma casa meio ao abandono com um jardim que cresce de forma selvagem, gatos, filmes a preto e branco, tangerinas e queijo, tangerinas com queijo numa toalha aos quadrados vermelhos e brancos, cheiro a café, tardes passadas na Tate (em frente aos quadros que são as capas dos livros), concertos em igrejas góticas, alfarrabistas e lojas com mapas velhos. Mapas de sítios que já não existem. Se eu vivesse dentro de um livro... seria dentro de um livro destes. E não são livros felizes. Alguém pode pode morrer ou desencontrar-se. Desencontrar-se e ficar à espera. Há sempre um homem que se chama Tom. Deve ser verdadeiro porque este livro é dedicado a ele.
E começa com uma frase de Elizabeth Bowen:
"WE ARE MINOR IN EVERYTHING BUT OUR PASSIONS."