"Mãe, faz-se assim: primeiro tira-se o sangue todo pelo nariz, com uma agulha, depois tira-se o cérebro, a seguir corta-se a barriga e tira-se tudo lá de dentro, menos o coração. Como está tudo podre e cheira muito mal, põe-se perfume. Por cima. para dar sorte, põem-se os escaravelhos."
Arregalei os olhos, fiquei calada e pensei: "Tenho um Dexter de 5 anos anos a viver em minha casa."
Mas não pude resmungar, a culpa foi minha que o levai a uma actividade sobro o antigo Egipto na Gulbenkian. E ele, com aquele ar tão sério e aquela conversa macabra até teve graça!
Desde aí não se cala com as múmias e os deuses egípcios e, como a informação histórica já é tanta, a todo o tempo faz perguntas sobre a cronologia: "Mas foi antes ou depois dos homens das cavernas?", "Antes ou depois de Jesus?", "Antes ou depois do Dartacão?" (Há-de ser sempre Dartacão e nunca, jamais, D'Artagnan.)
E explicar-lhe onde encaixava, cronologicamente, a acção do filme "Como Treinares o teu Dragão". Pois, até eu fico mais inteligente com isto tudo (e com dor de cabeça também, confesso.)
Mas, bem, voltando aos museus... Sempre acreditei que os museus funcionam de modo cumulativo: quem vê um quer ver dois, quem vê dois, está perdido para todo o sempre! Assim aconteceu connosco pais (e especialmente comigo, que sou museóloga) e assim está a repetir-se com ele em modo muito mais rápido. Visitar museus é conhecer o mundo e a Humanidade, é abrir uma janela e querer abrir muitas, muitas mais. É não parar de fazer perguntas. E é tão bom!
Por isso, claro, este fim de semana lá fomos ao Museu Nacional de Arquelogia onde, depois do segurança lhe ter dito à porta "Cuidado, não acordes a múmia! Ela é muito chata!", entrou a medo na sala dos Tesouros Egípcios. E gostou ele. E gostámos nós.
E assim confirmo, como mãe, educadora e profissional de museus, uma das minhas frases favoritas:
“
In the Bible, we can find the famous statement that there is nothing new under the sun. That is, of course true. But there is no sun inside the museum. And that is probably why the museum always was – and remains – the only possible site of innovation." Boris Groys,
The Art Power