domingo, 8 de março de 2009

The dark stand still e Aparelho metafísico de meditação




Passei o dia a seguir visitantes no Museu do Chiado. Já passei alguns dias nisto e este foi o último. Os visitantes gostam das obras, não sei se gostam da exposição. Alguns percebem que é uma exposição. Outros, só obras. O vigilante, que já me conhece pelo nome, perguntou-me quais as minhas obras preferidas. Referi "Lisboa-Oropeza" de Joaquim Rodrigo, "Memory Piece" de Julião Sarmento e as obras do Jorge de Oliveira, artista agora "redescoberto" pelo museu. Também gosto do Lanhas (um dia falo sobre ele) e do Alberto Carneiro e do Miguel Palma (gosto muito de "Mil contos dentro de um cofre"!!!). Gosto de todos. O vigilante disse que aquilo era falta de imaginação. A princípio não percebi se estava a falar da exposição ou das obras. Era das obras: que antigamente a arte era bonita, que as pessoas tinham prazer em ver e agora não, ninguém gosta daquilo e muito menos daquela instalação lá de baixo com aquelas linhas no chão (falava de "Uma linha para os teus sentimentos estéticos" de António Carneiro) e aquilo do cofre também ninguém entende. Disse: "O cofre até pode ser bonito. Mas ninguém percebe, mesmo que a gente explique que tem mil contos lá dentro!"
Fiquei com pena dele. Trabalha ali, passa não sei quantas horas ao pé das obras e não gosta delas. Tem esse direito, claro. Devia preferir o Museu de Arte Antiga. Eu, cá pagava para trabalhar no Chiado. Como não posso, pago para fazer uma tese sobre ele (embora a passo de caracol).
Das observações feitas, acho que a maioria das pessoas gosta e tira verdadeiro prazer, como este pai e esta filha que secretamente "segui" há uns dias.

Observação nº4
Dia: 25-1-2009 (Domingo)
Visitantes: 2, um homem e uma criança
Faixa etária: Homem 41-50 anos, criança: -10 anos
Tempo a ver a exposição: 18 minutos Tempo de permanência no Museu: 42 minutos
Leitura de textos. Inexistente
Percurso: muito errático devido à presença da criança, a que o pai dá bastante liberdade, chamando-a apenas para a observação de algumas obras.
Obras nas quais demoraram mais tempo: Júlia Ventura, João Tabarra, Paiva e Gusmão, Helena Almeida
Obras fotografadas: (não se aplica)
Obras que comentaram em conjunto: João Tabarra, Paiva e Gusmão, Helena Almeida
Obras em que voltaram a parar: Paiva e Gusmão
Observações: Viram a obra de Isaac Julien mas passaram também algum tempo a observar o atelier de família.

12h40 – Entram no espaço expositivo. Não lêem texto de parede e passam rapidamente obra de Alberto Carneiro. Criança segue sempre um pouco à frente.
12h54 – Entram no núcleo “Reversibilidade”. Criança dá uma volta rápida à sala, enquanto o pai observa atenciosamnte a obra de Júlia Ventura.
12h56 – Pai dirige-se ao canto totalmente oposto da sala onde filha observa a obra de Escada.
12h58 – Dirigem-se ambos à obra de Júlia Ventura. Criança observa atentamente as figuras do papel de parede enquanto o pai lê a tabela da obra. Seguem para “Aparelho metafísico de meditação”, de António Pedro.
13h Observam obra de Alexandre Estrela e seguem pela mesma parede, dirigindo-se de novo à entrada do núcleo (num movimento contrário à maioria dos visitantes).
13h01 – Contornam obra de Carneiro, “Raiz, caule, folhas, frutos.”
13h02 – Entram no núcleo “Rebaixamento”. Pai observa obra de Paula Rego enquanto a filha se dirige à obra de Tabarra, chama o pai e comenta a figura do homem a beber água do charco.
13h05 – Comentam obra de Paiva e Gusmão
13h07 – Pai explica à filha como funciona máquina de projecção de 16mm.
13h08 – Pai observa obra de Helena Almeida. Vai chamar a filha, que se encontra na parede contrária junto à obra de Julião Sarmento. Juntos deslocam-se de novo para a obra de Helena Almeida que o adulto explica à criança.
13h09 – Pai segue pelo percurso observando as obras de Cristino da Silva, Pedro Cabrita Reis, Julião Sarmento, Joaquim Rodrigo e restantes obras da mesma parede, num movimento contínuo e contrário ao da maioria dos visitantes.
13h11 – Criança observa de novo obra de Paiva e Gusmão.
13h12 – Saem da exposição.

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