quinta-feira, 16 de maio de 2013

O risco de expor uma obra de arte


Quando estudei em Barcelona tive uma professora de conservação que nos disse, a meio de uma aula: “Os maires riscos para os museus de arte contemporânea são as crianças e os velhinhos.” Dizia isto porque a arte contemporânea, especialmente determinado tipo de instalações, se presta a distrações: os miúdos podem tropeçar na obra quando correm e aos mais idosos, muitas vezes por dificuldades de mobilidade pode acontecer o mesmo ou parecido. Não posso negar que isto, em determinado sentido, possa ser verdade, mas nunca conheci nenhum caso real.
Expor uma obra é sempre um risco: nas galerias de um museu ela está sempre mais vulnerável do que no ambiente mais que controlado das reservas. Mas esse risco deve ser assumido pelos curadores da exposição, pelos diretores de museu e, se for o caso, pelos proprietários da obra. Como sabemos de notícias recentes, até (se calhar, principalmente) nos museus mais insuspeitos acontecem acidentes ou atos de vandalismo. Quando se perde uma obra de arte, todos nós perdemos, mas se guardássemos sempre tudo em reservas perderíamos muito mais. Por isso, quando um comissário de uma exposição escolhe uma obra e o local onde vai ser exposta, deve medir bem os prós e os contras, sabendo sempre desse risco, como o sabem tão bem todos os profissionais de museus mas não deve, nunca, colocar barreiras à contemplação da obra porque, nesse caso, mais vale não a expor.
Neste exemplo que vi há pouco tempo no átrio principal do CAMJAP | Gulbenkian, parece-me que o maior risco para a obra foi mesmo o comissário da exposição, porque se trata de um caso em que as barreiras, colocadas por questões de segurança, interferem em demasia (e diria mesmo, destroem) a obra. E lembro-me bem de, na mesma instituição, ver excelentes opções de exposição desta “floresta”: tanto numa antiga montagem do CAM, como em “50 anos de Arte portuguesa” (foto em baixo). Ainda para mais que o próprio artista, Alberto Carneiro, pensou “Uma Floresta para os Teus Sonhos” para ser uma obra que o visitante pudesse atravessar e, como se lê no próprio site do CAM, na ficha da peça:
“um tronco de árvore não é dado a ver através do desenho ou de uma fotografia, mas é um tronco de árvore ele mesmo que é mostrado, como em Uma Floresta para os Teus Sonhos, em que 200 troncos de árvores de diferentes dimensões e alturas podem não só ser contemplados, como atravessados ou tocados.” Para além de todos os riscos óbvios a que as obras estão sujeitas e mais os imprevisíveis ataques de lunáticos e possíveis quedas de crianças tresloucadas ou velhinhos distraídos eu, pessoalmente, gostaria muito que não fosse necessário acrescentar os curadores a esta lista.

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