segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Fechar

Na mesma semana aconteceu duas vezes. As pessoas a quem quotidianamente dou os meus bons dias, com quem troco uma palavras ou para quem os meus filhos sorriem foram-se embora.
De forma permanente, porque a idade exige o mais que merecido descanso, ou de forma temporária, porque a doença nos apanha numa esquina.
Eu, que odeio fins, chorei às escondidas para não agudizar o desgosto do mais velho - com quem me espanto e me preocupo por ser tão parecido comigo em questões de lágrimas e desgostos...
A loja da nossa rua, com fruta fresca à porta e uma cara conhecida no interior, fechou. Era uma mercearia com mais de 50 anos, com estantes metálicas de alto a baixo e tabelas de preços escritas à mão. Tenho pena de nunca ter tido coragem de tirar fotografias. Vamos ter saudades do sr. Alexandrino que dava posters do Benfica ao Manuel e cometeu o pecado de dar o primeiro chupa à Maria. A rua fica um pouco mais triste e o nossos dias também. 
Também à porta do colégio da M. os nossos bons dias mudaram, porque a T., sempre carinhosa e com ar de quem podia ter sido atriz para o Almodóvar, ausentou-se.
Tudo assim, num rompante.
A minha vida começa a ser um acumular de ausências, como se o coração ficasse cheio de gavetas vazias.

E como este texto podia ser sobre a importância dos bons dias, deixo a bonita canção dos Deolinda, porque mesmo assim há ainda quem faça os meus (bons) dias:

Fazes no dia que nasce a manhã mais bonita
A brisa fresca da tarde
A noite menos fria
Eu não sei se tu sabes
Mas fizeste o meu dia tão bem
Esse bom dia que dás
É outro dia que nasce
É acordar mais bonita
É trabalhar com vontade
É estar no dia com pica
É passar com a vida e desejar-te um bom dia também
Um bom dia p'ra ti
Não o que apenas passa
Não o que pesa e castiga
Não o que esqueças mais tarde
Mas o dia em que me digas ao ouvido baixinho
Ai tu fizeste o meu dia tão bem
Tão bom, tão bem
Faz também o dia de alguém
Faz também o dia de alguém
Faz também o dia de alguém
Faz também o dia de alguém
Fazes no dia que nasce a manhã mais bonita
A brisa fresca da tarde
A noite menos fria
Eu não sei se tu sabes
Mas fizeste o meu dia tão bem
Um bom dia p'ra ti e para o estranho que passa
E para quele que se esquiva
Para quem se embaraça e se cala na vida
Mesmo que não o diga
Ai tu fizeste o meu dia tão bem
Tão bom, tão bem
Faz também o dia de alguém
Faz também o dia de alguém
Faz também o dia de alguém
Faz também o dia de alguém
Faz também o dia de alguém
Faz também o dia de alguém


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