"Do not ask me who I am and do not ask me to remain the same: leave it to our bureaucrats and our police to see that our papers are in order. At least spare us their morality when we write." Michel Foucault
domingo, 14 de dezembro de 2014
À porta de casa
Nunca tinha percebido bem está mania de por enfeites na porta de casa. Para quem vive num prédio, sobretudo no último andar, a utilidade é praticamente nula. Mas este Inverno, decidi que a quadra incluíria trazer alguma natureza para casa e assim, fomos à "floresta" (a única que há em Lisboa) e trouxemos musgo, ramos verdes e bagas coloridas. Pus mãos à obra e fiz uma coroa que me enche de orgulho sempre que chego a casa.
(Entretanto, as bagas abriram e o M. diz: "Está tão giro, mãe! Parecem cérebros!")
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
A insustentável repetição do quotidiano
Às vezes sinto-me assim, demasiado "atrapada" pela realidade. Não me lembro do termo correcto em português (e nem sequer sei porque o uso em espanhol, vivi em Barcelona menos de um ano e não aprendi castelhano nem catalão). Talvez seja "encurralada", mas é uma palavra feia...
Tenho quase uma vida de sonho: um emprego que gosto, na área que estudei, um filho para lá de maravilhoso e um marido de fazer inveja. Do que sonhava para mim em criança só me falta um quintal e um cão. E no entanto...
Às vezes parece-me tudo tão demasiadamente igual, tudo tão aborrecido... E sim, eu sei que há maneiras de fazer com que a nossa vida seja fantástica; dezenas de livros, centenas de blogues e milhares de conselhos, mas então? A vida não é um livro de instruções.
Hoje sinto-me uma pessoa chata e desinteressante.
Quotidiana.
Superficial.
E nem sequer bonita.
Ou talvez seja só o mundo à minha volta.
(Vou temperar os bifes para o jantar.)
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Para tomar o aspecto de uma fénix
Fiz uma contratura muscular na aula de sexta.
A casa tornou-se um caos que não consigo resolver.
Os rapazes não estão cá.
À falta de conseguir fazer melhor, sentei-me a emparelhar e coser meias.
Olhei para o lado e vi o livro que tirei da estante há mais de um mês. Comprei-o no primeiro ano de licenciatura, em 1995.
"Fórmula para tomar o aspecto de uma fénix.
Palavras ditas por N.:
Eu voei como um deus primordial, eu vim à existência como Khepri, eu cresci como uma planta, eu protegi-me com uma carapaça como uma tartaruga. Eu sou o fruto de cada deus. Eu sou a sétima destas sete uraeus que se encontram no Ocidente, o Hórus que se torna luminoso a ele próprio, este deus (que julgou) contra Set, o Tot que se colocou no meio deles neste julgamento do chefe de Letópolis com as Almas de Heliópolis, a água que correu entre elas. Eu vim neste dia, tendo aparecido na procissão dos deuses. Eu sou khonsu, aquele que se opõe aos senhores.
Quem conheça esta fórmula sendo puro, pode sair à luz do dia depois da sua morte e tomar os aspectos que o seu coração deseja tomar; (pode) estar entre os seguidores de Uen-nefer, alimentar-se dos alimentos de Osíris, ter a oferenda funerária, ver o disco solar, ser próspero sobre a terra junto de Ré, é justificado junto de Osíris, e nenhum mal tem poder sobre ele. Isto foi verdadeiramente eficaz milhões de vezes."
O livro dos mortos do Antigo Egipto, Assírio & Alvim
(Volto para as meias, que agora assumem uma nova dimensão embora não tenha encontrado nenhuma fórmula para me tornar uma dona de casa eficaz.)
sábado, 29 de novembro de 2014
Compras (por enquanto para nós)
Este mês não dá para todas as compras que gostaríamos de fazer, mas não resistimos a ir espreitar o showroom do Perdi o fio à meada (http://perdi-o-fio-a-meada.blogspot.pt), aqui mesmo pertinho de casa. O espaço estava animado e o Manuel demorou tempos a fazer um desenho que quis trazer para casa e que colámos com a fita cola colorida do Made in Paper (eu fiquei apaixonada pelos carimbos -http://madeinpaper.bigcartel.com/product/alphabet-stamp-boxes-hand-drawing - , mas fica para a próxima). Também trouxemos para casa mais um presépio, desta vez em forma de mobile feito pela Ana Ventura - http://papeisportodolado.blogspot.pt - (aposto que a Cavaca não tem este).
E para além disto tudo, hoje foi mesmo um dia especial, porque o Manuel deu o seu primeiro concerto!
(A aplicação não dá para por links, por isso teve mesmo de ser assim).
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Os Museus são como as cerejas
"Mãe, faz-se assim: primeiro tira-se o sangue todo pelo nariz, com uma agulha, depois tira-se o cérebro, a seguir corta-se a barriga e tira-se tudo lá de dentro, menos o coração. Como está tudo podre e cheira muito mal, põe-se perfume. Por cima. para dar sorte, põem-se os escaravelhos."
Arregalei os olhos, fiquei calada e pensei: "Tenho um Dexter de 5 anos anos a viver em minha casa."
Mas não pude resmungar, a culpa foi minha que o levai a uma actividade sobro o antigo Egipto na Gulbenkian. E ele, com aquele ar tão sério e aquela conversa macabra até teve graça!
Desde aí não se cala com as múmias e os deuses egípcios e, como a informação histórica já é tanta, a todo o tempo faz perguntas sobre a cronologia: "Mas foi antes ou depois dos homens das cavernas?", "Antes ou depois de Jesus?", "Antes ou depois do Dartacão?" (Há-de ser sempre Dartacão e nunca, jamais, D'Artagnan.)
E explicar-lhe onde encaixava, cronologicamente, a acção do filme "Como Treinares o teu Dragão". Pois, até eu fico mais inteligente com isto tudo (e com dor de cabeça também, confesso.)
Mas, bem, voltando aos museus... Sempre acreditei que os museus funcionam de modo cumulativo: quem vê um quer ver dois, quem vê dois, está perdido para todo o sempre! Assim aconteceu connosco pais (e especialmente comigo, que sou museóloga) e assim está a repetir-se com ele em modo muito mais rápido. Visitar museus é conhecer o mundo e a Humanidade, é abrir uma janela e querer abrir muitas, muitas mais. É não parar de fazer perguntas. E é tão bom!
Por isso, claro, este fim de semana lá fomos ao Museu Nacional de Arquelogia onde, depois do segurança lhe ter dito à porta "Cuidado, não acordes a múmia! Ela é muito chata!", entrou a medo na sala dos Tesouros Egípcios. E gostou ele. E gostámos nós.
E assim confirmo, como mãe, educadora e profissional de museus, uma das minhas frases favoritas:
“In the Bible, we can find the famous statement that there is nothing new under the sun. That is, of course true. But there is no sun inside the museum. And that is probably why the museum always was – and remains – the only possible site of innovation." Boris Groys, The Art Power
Arregalei os olhos, fiquei calada e pensei: "Tenho um Dexter de 5 anos anos a viver em minha casa."
Mas não pude resmungar, a culpa foi minha que o levai a uma actividade sobro o antigo Egipto na Gulbenkian. E ele, com aquele ar tão sério e aquela conversa macabra até teve graça!
Desde aí não se cala com as múmias e os deuses egípcios e, como a informação histórica já é tanta, a todo o tempo faz perguntas sobre a cronologia: "Mas foi antes ou depois dos homens das cavernas?", "Antes ou depois de Jesus?", "Antes ou depois do Dartacão?" (Há-de ser sempre Dartacão e nunca, jamais, D'Artagnan.)
E explicar-lhe onde encaixava, cronologicamente, a acção do filme "Como Treinares o teu Dragão". Pois, até eu fico mais inteligente com isto tudo (e com dor de cabeça também, confesso.)
Mas, bem, voltando aos museus... Sempre acreditei que os museus funcionam de modo cumulativo: quem vê um quer ver dois, quem vê dois, está perdido para todo o sempre! Assim aconteceu connosco pais (e especialmente comigo, que sou museóloga) e assim está a repetir-se com ele em modo muito mais rápido. Visitar museus é conhecer o mundo e a Humanidade, é abrir uma janela e querer abrir muitas, muitas mais. É não parar de fazer perguntas. E é tão bom!
Por isso, claro, este fim de semana lá fomos ao Museu Nacional de Arquelogia onde, depois do segurança lhe ter dito à porta "Cuidado, não acordes a múmia! Ela é muito chata!", entrou a medo na sala dos Tesouros Egípcios. E gostou ele. E gostámos nós.
E assim confirmo, como mãe, educadora e profissional de museus, uma das minhas frases favoritas:
“In the Bible, we can find the famous statement that there is nothing new under the sun. That is, of course true. But there is no sun inside the museum. And that is probably why the museum always was – and remains – the only possible site of innovation." Boris Groys, The Art Power
terça-feira, 18 de novembro de 2014
Get Bored
"This is the cultural pathology of our time: If we stopped doing what we do, we might not know who we are."
(ou: "Preciso mesmo de ir para a beira de um riacho")
Ando constantemente nisto, à procura de mim própria para além da profissional a da mãe que sou. Se não fosse isso, quem seria eu?
Imagem do Maurice Sendak, livro "Open House for Butterflies", e artigo que me fez pensar do Brain Pickings.
Nota da autora:
- Quando era pequena, algumas das pessoas da família perguntavam-me se eu estava a "pensar na morte da bezerra". Há pessoas que não sabem bem o significado da palavra pensar.
- Era, na altura - agora não tenho tempo - muito esimesmada (e esta é uma palavra que eu adoro e que, de vez em quando, me define).
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