sexta-feira, 26 de julho de 2013

Da gratidão



Acho que posso considerar-me uma pessoa com sorte. Diria mesmo, uma pessoa feliz (isto é um palavra tão grande).
Tive quatro avós até tarde. Ainda tenho dois fantásticos avós. Foram eles que construíram a minha infância.
O meu avó Cesário morreu quando eu tinha 23 anos. Todo ele era um sorriso. Tinha os olhos muito brilhantes e as mãos muito magras. Ensinou-me a descascar laranjas e o significado da palavra devagar. Trazia para casa "baraços" (que faziam sempre falta) e molas de roupa que encontrava na rua. Passeava e bebia café e ia dormir para o sofá quando eu ficava à noite na casa da minha avó.
Da minha avó Clotilde não posso dizer muito. O meu corpo é o dela. Uma parte grande de mim morreu com ela e jamais deixarei de sentir saudades. Os olhos da minha avó eram de água e quando digo o nome Clotilde os meus olhos tornam-se também água. Uma das minhas maiores mágoas é que não tenha conhecido o Manuel, sei tão bem como a teria feito feliz.
Mas sou sortuda. Os dois pais da minha mãe vivem. A minha avó Maria e o meu avô Manuel lutaram a vida inteira e ainda lutam, embora de formas diferentes. Nunca, nunca me vou esquecer do tempo em que cantavam à desgarrada nem das manhãs em que o meu avô saía para o trabalho e eu ia dormir para a cama da minha avó. O meu avô Manuel é a pessoa mais bonita que conheço, a minha avó Maria é a mais paciente.
Não sei quanto tempo mais os meus avós vão viver, mas acho que vão chegar aos cem anos! Mas mesmo que isso não aconteça a marca que deixaram em mim e no meu filho (mesmo que ele não sinta isso de uma forma consciente) já é bastante forte. Porque não há nada no mundo mais importante do que aprender a descascar favas ou a dançar a dança do marujinho…

Assim, sendo, que me perdoem os avós: longa vida a todos os bisavós deste mundo!

Sem comentários: