terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Inevitavelmente, balanços...

Este ano, o meu avô sobreviveu, contra todas as previsões e depois de pensarmos que estávamos perto de perdê-lo para sempre.
Este ano, as mãos do meu filho continuaram a crescer, mas continuam a fazer festas no meu cabelo.
Este ano, ele mudou de escola e eu chorei.
Este ano voltei a encontrar-me com a minha melhor amiga de adolescência e continuamos a falar das coisas mais importantes e mais íntimas, das mais fúteis às mais tontas com a mesma leveza, o mesmo sorriso e tudo misturado! Passaram 20 anos, mas podiam ter sido só 20 horas!
Este ano voltei ao ginásio para descobrir que nunca o devia ter deixado.
Este ano, viajei pela primeira vez em trabalho e dei uma conferência em inglês e correu bem.

Para o ano que começa já na Quinta-feira não tenho planos. Estou cansada de fazer projectos que não chegam a concretizar-se. Espero só que a vida me surpreenda pela positiva. Tenho de aprender a dar lugar ao inesperado.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Chegar ao Inverno para lembrar o Verão

[Porque só agora houve tempo de descarregar as fotografias]






E lembrar-me da felicidade que é ver o meu filho correr atrás dos meu avós. E dos gatos que nasceram e que já andam pelo mato.
E esperar que no próximo ano tudo se possa voltar a repetir.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Questões (pós)existenciais

[ao jantar]
- Mãe, o que é que nos acontece depois de morrermos?
- Não sei, filho… Transformamos-nos noutra coisa. Somos feitos de matéria e essa matéria transforma-se noutra coisa: uma árvore, um pássaro ou, se calhar, um peixinho.
- Tens mesmo a certeza?
- Não. Ninguém sabe bem o que acontece depois.

[depois do jantar]
- Mãe, como é que os passarinhos sabem qual é a sua mãe?
- Então, porque é a mãe que toma conta deles. Como é que tu sabes que eu sou tua mãe? Porque desde bebé eu tomo conta de ti, não é? Com os passarinhos é o mesmo.
- Quando eu for passarinho podes ficar ao pé de mim, no ninho?
- Sim, filho, claro!
- Então, eu vou estar no ramo daquela oliveira mais alta, está bem?


(Nunca ninguém tinha combinado comigo um encontro na outra reencarnação! Mas os laços kármicos devem mesmo ser muito fortes!)

domingo, 14 de dezembro de 2014

Os nossos Domingos à tarde

"Mãe, tens deixar os olhos de fora, para ela quando acordar ver onde é que está."

À porta de casa

Nunca tinha percebido bem está mania de por enfeites na porta de casa. Para quem vive num prédio, sobretudo no último andar, a utilidade é praticamente nula. Mas este Inverno, decidi que a quadra incluíria trazer alguma natureza para casa e assim, fomos à "floresta" (a única que há em Lisboa) e trouxemos musgo, ramos verdes e bagas coloridas. Pus mãos à obra e fiz uma coroa que me enche de orgulho sempre que chego a casa.
(Entretanto, as bagas abriram e o M. diz: "Está tão giro, mãe! Parecem cérebros!")

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A insustentável repetição do quotidiano

Às vezes sinto-me assim, demasiado "atrapada" pela realidade. Não me lembro do termo correcto em português (e nem sequer sei porque o uso em espanhol, vivi em Barcelona menos de um ano e não aprendi castelhano nem catalão). Talvez seja "encurralada", mas é uma palavra feia...
Tenho quase uma vida de sonho: um emprego que gosto, na área que estudei, um filho para lá de maravilhoso e um marido de fazer inveja. Do que sonhava para mim em criança só me falta um quintal e um cão. E no entanto... 
Às vezes parece-me tudo tão demasiadamente igual, tudo tão aborrecido... E sim, eu sei que há maneiras de fazer com que a nossa vida seja fantástica; dezenas de livros, centenas de blogues e milhares de conselhos, mas então? A vida não é um livro de instruções.
Hoje sinto-me uma pessoa chata e desinteressante. 
Quotidiana. 
Superficial.
E nem sequer bonita.
Ou talvez seja só o mundo à minha volta.

(Vou temperar os bifes para o jantar.)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Para tomar o aspecto de uma fénix


Fiz uma contratura muscular na aula de sexta. 
A casa tornou-se um caos que não consigo resolver. 
Os rapazes não estão cá.
À falta de conseguir fazer melhor, sentei-me a emparelhar e coser meias. 
Olhei para o lado e vi o livro que tirei da estante há mais de um mês. Comprei-o no primeiro ano de licenciatura, em 1995.

"Fórmula para tomar o aspecto de uma fénix.

Palavras ditas por N.:

Eu voei como um deus primordial, eu vim à existência como Khepri, eu cresci como uma planta, eu protegi-me com uma carapaça como uma tartaruga. Eu sou o fruto de cada deus. Eu sou a sétima destas sete uraeus que se encontram no Ocidente, o Hórus que se torna luminoso a ele próprio, este deus (que julgou) contra Set, o Tot que se colocou no meio deles neste julgamento do chefe de Letópolis com as Almas de Heliópolis, a água que correu entre elas. Eu vim neste dia, tendo aparecido na procissão dos deuses. Eu sou khonsu, aquele que se opõe aos senhores.

Quem conheça esta fórmula sendo puro, pode sair à luz do dia depois da sua morte e tomar os aspectos que o seu coração deseja tomar; (pode) estar entre os seguidores de Uen-nefer, alimentar-se dos alimentos de Osíris, ter a oferenda funerária, ver o disco solar, ser próspero sobre a terra junto de Ré, é justificado junto de Osíris, e nenhum mal tem poder sobre ele. Isto foi verdadeiramente eficaz milhões de vezes."
O livro dos mortos do Antigo Egipto, Assírio & Alvim 

(Volto para as meias, que agora assumem uma nova dimensão embora não tenha encontrado nenhuma fórmula para me tornar uma dona de casa eficaz.)