"O papagaio que brotou da pena
teve penas vermelhas do fogo
e penas azuis do céu
e penas verdes das folhas da árvore
e um bico duro de pedra e dourado de laranja
e teve palavras humanas para dizer
e água de lágrimas para beber e refrescar-se
e teve uma janela aberta para escapar
e voou na rajada de vento."
in História da Ressureição do Papagaio
É um dos livros mais bonitos que temos cá em casa. E, como quase todos os livros que cabem na categoria de "bonitos", é do Manuel. Gosto muito de o ler e a educadora do ano passado chegou a trabalhar com esta história que foi recontada por Eduardo Galeano a partir de uma lenda do Nordeste brasileiro.
Está editado pela Kalandraka e as ilustrações são de António Santos.
Do Eduardo Galeano, existem muitos outros livros para ler e até esta fantástica história dos abraços.
"Do not ask me who I am and do not ask me to remain the same: leave it to our bureaucrats and our police to see that our papers are in order. At least spare us their morality when we write." Michel Foucault
quarta-feira, 29 de abril de 2015
quarta-feira, 22 de abril de 2015
Flores cá de casa
Apanhámos no caminho da escola para casa e fizemos colagens com papel autocolante. Tornou-se um vício.
Há muitas formas de fazer jardins, não há?
Etiquetas:
Jardins,
Produções Mãe Galinha Filho Pintaínho
terça-feira, 21 de abril de 2015
Flores que teimam em crescer onde ninguém as mandou
Eu sei que faz mal aos edifícios, mas acho esta força da natureza, de brotar assim em qualquer sítio, sempre fantástica (e poética).
terça-feira, 14 de abril de 2015
A quotidiana sopa
De agrião
De espinafres
De couve-flor (cosida em água e leite)
De alho-francês
De coentros
De tudo e mais alguma coisa...
É do que fazemos mais cá em casa e também é do que comemos mais.
Os legumes vêem quase sempre dá mercearia mais próxima.
As cores das sopas ficam sempre bonitas.
Não percebo porque é que chamar sopeira a alguém é um insulto.
Sopeiras de todo o mundo, uni-vos!
segunda-feira, 13 de abril de 2015
Quando toda a cidade pode ser um jardim
Quando era pequena vivia num rés-do-chão com dois canteiros em frente à janela do meu quarto. O mais pequeno, mesmo debaixo da janela, pertencia à casa e um dos meus passatempos favoritos era regá-lo. No maior, um metro ou dois a seguir, crescia uma laranjeira de que ainda hoje tenho saudades.
Ainda não desisti de um dia vir a ter um singelo quintal. Enquanto esse dia não chega, vou espalhando vasos pela casa e pelo vão das escadas.
Mas, um dos meus livros favoritos - O Jardim Curioso - ensinou-me que toda a cidade pode ser um jardim. Se calhar, até pode o nosso jardim. Por isso, hoje fizemos bombas de sementes! É uma porcaria maravilhosa e os miúdos também precisam de mexer em terra e lama... (eu sei, as fotografias não são bonitas!)
Se, daqui a um mês ou dois,virem girassóis por aí pelas redondezas, fomos nós que os semeámos. (O pinheiro que plantámos há duas semanas também já está a crescer!)
sexta-feira, 10 de abril de 2015
Hórus, filho de Osíris
É mais ou menos isto: na mitologia egípcia, o Deus Osíris foi morto pelo seu irmão Seth que o esquartejou em 14 pedaços. Hórus é seu filho, embora Ísis, a mãe, tenha sido estranhamente fecundada depois da morte de Osíris: foi ela que reuniu todos os seus pedaços e o fez ressuscitar, mas faltou à desgraçada encontrar-lhe o pénis.
O Hórus cá de casa quis sentir-se na pele do pai e fez-me perceber como é que deve ser o papel daqueles arqueólogos a juntar os cacos todos. Safei-me bem, mas estive para deitar tudo para o lixo.
Pus o Hórus na prateleira mais alta - o Manuel ainda não sabe de nada e lá no cimo as cicatrizes notam-se menos.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Tempo, uma questão de dinheiro
Há muito tempo que andava para escrever este post.
Por vezes parece-me que o meu dia tem 3 horas: das 19h às 22h. Nestas três horas do dia tenho - grande parte das vezes - de dar banho à criança, fazer o jantar, preparar o almoço do dia seguinte e a roupa do dia seguinte e talvez estender uma máquina de roupa e até preparar essas mesmas três horas que se repetirão no dia a seguir (descongelar o jantar, por exemplo). E só não tenho de arrumar a cozinha porque é o rapaz cá de casa que faz isso.
Por isso, quando me falam em "tempo de qualidade" que os pais passam com os filhos faz-me muita confusão... Qual qualidade e qual tempo quando uma pessoa anda a stressar em três horas, porque às 22h o tem de ter na cama, para se levantar às 8h (sim, nesse aspecto sou sortuda) e repetir o mesmo todos os dias?
E mesmo assim, tento ser uma mãe paciente: vou buscá-lo à escola a pé, levo-o onde ele quer ir (todos os dias vai cumprimentar o senhor da mercearia lá da rua), deixo-o estar de molho no banho e levar mais de uma hora a comer (haja paciência!!) e no fim? No fim, sinto-me um caco, porque passei o dia a trabalhar, ele queixa-se de estar demasiado tempo na escola onde eu acho que ele não aprende nada (ou aprende pouco) e todas as noites tenho um ataque de nervos porque a casa é um caos em permanência.
No fim de semana, se quero fazer alguma coisa de jeito, como dar um passeio ou ir a um museu, fica outra vez tudo em stand by e opto por fazer em casa o mínimo necessário: tratar das roupas, da comida, dar um jeito aqui e ali.
A forma como uso o tempo não é só uma questão de escolha, não posso passar os fins-de-semana inteiros na boa vida. Por isso, não me venham falar do tempo que devemos dispensar na educação dos nossos filhos, desse suposto "tempo de qualidade" que as mães que trabalham e que não têm dinheiro suficiente para ter ajuda em casa pelo menos uma ou duas vezes por semana deveriam ter. Isso não existe. O que existe é ter uma casa impecável (ou, diria, minimamente aceitável) ou passar algum tempo com as crianças e com a família. Esta gestão não é fácil e é por isso, também, que a mobilidade social é uma falsidade: o dinheiro compra tempo e o tempo compra uma educação de qualidade e experiências enriquecedoras (porque mesmo que essas experiências sejam gratuitas, uma pessoa tem de ter tempo para elas). E assim continuamos, como cariátides a suportar todo o peso nas nossas cabeças: a gestão da casa, da educação dos nossos filhos, a nossa "carreira" (isso existe?) e um pouco de tempo que ainda deveríamos ter para nós (antes de acabarmos por ter um colapso nervoso).
E apesar de tudo sou uma sortuda, tenho uma trabalho de que gosto, onde aprendo coisas e para o qual estudei anos a fio, ele anda numa escola perto de casa, tenho um marido que ajuda. Mas então? Eu acho mesmo que não existe tempo de qualidade se não existir tempo em quantidade (ou dinheiro em quantidade que permita pagar tarefas secundárias a outros ajudantes). E querem que seja sincera? O único tempo de qualidade que tenho com o meu filho, ao longo dos dias ditos "úteis" são as caminhadas de e para a escola e os momentos em que à noite lhe leio (sempre) um livro. É dose, porque a vida é demasiado curta.
A propósito disto, outros dois links que gostei de ler:
Tempo de Qualidade, My ass - Trinta e picos, quarenta e tal
To the Parents who don´t feel like they can get it all done, Liz Curtis Faria, The Huffington Post
Por vezes parece-me que o meu dia tem 3 horas: das 19h às 22h. Nestas três horas do dia tenho - grande parte das vezes - de dar banho à criança, fazer o jantar, preparar o almoço do dia seguinte e a roupa do dia seguinte e talvez estender uma máquina de roupa e até preparar essas mesmas três horas que se repetirão no dia a seguir (descongelar o jantar, por exemplo). E só não tenho de arrumar a cozinha porque é o rapaz cá de casa que faz isso.
Por isso, quando me falam em "tempo de qualidade" que os pais passam com os filhos faz-me muita confusão... Qual qualidade e qual tempo quando uma pessoa anda a stressar em três horas, porque às 22h o tem de ter na cama, para se levantar às 8h (sim, nesse aspecto sou sortuda) e repetir o mesmo todos os dias?
E mesmo assim, tento ser uma mãe paciente: vou buscá-lo à escola a pé, levo-o onde ele quer ir (todos os dias vai cumprimentar o senhor da mercearia lá da rua), deixo-o estar de molho no banho e levar mais de uma hora a comer (haja paciência!!) e no fim? No fim, sinto-me um caco, porque passei o dia a trabalhar, ele queixa-se de estar demasiado tempo na escola onde eu acho que ele não aprende nada (ou aprende pouco) e todas as noites tenho um ataque de nervos porque a casa é um caos em permanência.
No fim de semana, se quero fazer alguma coisa de jeito, como dar um passeio ou ir a um museu, fica outra vez tudo em stand by e opto por fazer em casa o mínimo necessário: tratar das roupas, da comida, dar um jeito aqui e ali.
A forma como uso o tempo não é só uma questão de escolha, não posso passar os fins-de-semana inteiros na boa vida. Por isso, não me venham falar do tempo que devemos dispensar na educação dos nossos filhos, desse suposto "tempo de qualidade" que as mães que trabalham e que não têm dinheiro suficiente para ter ajuda em casa pelo menos uma ou duas vezes por semana deveriam ter. Isso não existe. O que existe é ter uma casa impecável (ou, diria, minimamente aceitável) ou passar algum tempo com as crianças e com a família. Esta gestão não é fácil e é por isso, também, que a mobilidade social é uma falsidade: o dinheiro compra tempo e o tempo compra uma educação de qualidade e experiências enriquecedoras (porque mesmo que essas experiências sejam gratuitas, uma pessoa tem de ter tempo para elas). E assim continuamos, como cariátides a suportar todo o peso nas nossas cabeças: a gestão da casa, da educação dos nossos filhos, a nossa "carreira" (isso existe?) e um pouco de tempo que ainda deveríamos ter para nós (antes de acabarmos por ter um colapso nervoso).
E apesar de tudo sou uma sortuda, tenho uma trabalho de que gosto, onde aprendo coisas e para o qual estudei anos a fio, ele anda numa escola perto de casa, tenho um marido que ajuda. Mas então? Eu acho mesmo que não existe tempo de qualidade se não existir tempo em quantidade (ou dinheiro em quantidade que permita pagar tarefas secundárias a outros ajudantes). E querem que seja sincera? O único tempo de qualidade que tenho com o meu filho, ao longo dos dias ditos "úteis" são as caminhadas de e para a escola e os momentos em que à noite lhe leio (sempre) um livro. É dose, porque a vida é demasiado curta.
A propósito disto, outros dois links que gostei de ler:
Tempo de Qualidade, My ass - Trinta e picos, quarenta e tal
To the Parents who don´t feel like they can get it all done, Liz Curtis Faria, The Huffington Post
Etiquetas:
Filhote,
Mapa para o interior de mim mesma
quinta-feira, 2 de abril de 2015
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Perdidos e achados: Bordados
Não é a primeira vez que encontro panos bordados.
Hoje de manhã, na rua que dá para o museu estavam estes em cima de um pilar de cimento. Hesito sempre em trazê-los. Afinal de contas, não me pertencem.
É naquela fracção de segundo em que volto a olhar de novo, em que dou o passo atrás, que penso ser uma espécie de coincidência e que, por alguma razão, estes objectos chamam por mim. Estico a mão e parece sempre que estou a subtrair alguma coisa a alguém...
Mas gosto de pensar: quem os terá bordado? Em que pensaria enquanto bordava? Será que a pessoa já morreu?
E assim, começa uma nova narrativa para estes objectos. Afinal de contas é essa a minha profissão.
Porque "os objectos procuram aqueles que os amam".
Eu passei por ali e estes belos guardanapos de pano, que um dia alguém bordou com carinho, estavam à minha espera.
Subscrever:
Mensagens (Atom)