terça-feira, 7 de abril de 2015

Tempo, uma questão de dinheiro

Há muito tempo que andava para escrever este post.
Por vezes parece-me que o meu dia tem 3 horas: das 19h às 22h. Nestas três horas do dia tenho - grande parte das vezes - de dar banho à criança, fazer o jantar, preparar o almoço do dia seguinte e a roupa do dia seguinte e talvez estender uma máquina de roupa e até preparar essas mesmas três horas que se repetirão no dia a seguir (descongelar o jantar, por exemplo). E só não tenho de arrumar a cozinha porque é o rapaz cá de casa que faz isso.
Por isso, quando me falam em "tempo de qualidade" que os pais passam com os filhos faz-me muita confusão... Qual qualidade e qual tempo quando uma pessoa anda a stressar em três horas, porque às 22h o tem de ter na cama, para se levantar às 8h (sim, nesse aspecto sou sortuda) e repetir o mesmo todos os dias?
E mesmo assim, tento ser uma mãe paciente: vou buscá-lo à escola a pé, levo-o onde ele quer ir (todos os dias vai cumprimentar o senhor da mercearia lá da rua), deixo-o estar de molho no banho e levar mais de uma hora a comer (haja paciência!!) e no fim? No fim, sinto-me um caco, porque passei o dia a trabalhar, ele queixa-se de estar demasiado tempo na escola onde eu acho que ele não aprende nada (ou aprende pouco) e todas as noites tenho um ataque de nervos porque a casa é um caos em permanência.
No fim de semana, se quero fazer alguma coisa de jeito, como dar um passeio ou ir a um museu, fica outra vez tudo em stand by e opto por fazer em casa o mínimo necessário: tratar das roupas, da comida, dar um jeito aqui e ali.
A forma como uso o tempo não é só uma questão de escolha, não posso passar os fins-de-semana inteiros na boa vida. Por isso, não me venham falar do tempo que devemos dispensar na educação dos nossos filhos, desse suposto "tempo de qualidade" que as mães que trabalham e que não têm dinheiro suficiente para ter ajuda em casa pelo menos uma ou duas vezes por semana deveriam ter. Isso não existe. O que existe é ter uma casa impecável (ou, diria, minimamente aceitável) ou passar algum tempo com as crianças e com a família. Esta gestão não é fácil e é por isso, também, que a mobilidade social é uma falsidade: o dinheiro compra tempo e o tempo compra uma educação de qualidade e experiências enriquecedoras (porque mesmo que essas experiências sejam gratuitas, uma pessoa tem de ter tempo para elas). E assim continuamos, como cariátides a suportar todo o peso nas nossas cabeças: a gestão da casa, da educação dos nossos filhos, a nossa "carreira" (isso existe?) e um pouco de tempo que ainda deveríamos ter para nós (antes de acabarmos por ter um colapso nervoso).

E apesar de tudo sou uma sortuda, tenho uma trabalho de que gosto, onde aprendo coisas e para o qual estudei anos a fio, ele anda numa escola perto de casa, tenho um marido que ajuda. Mas então? Eu acho mesmo que não existe tempo de qualidade se não existir tempo em quantidade (ou dinheiro em quantidade que permita pagar tarefas secundárias a outros ajudantes). E querem que seja sincera? O único tempo de qualidade que tenho com o meu filho, ao longo dos dias ditos "úteis" são as caminhadas de e para a escola e os momentos em que à noite lhe leio (sempre) um livro. É dose, porque a vida é demasiado curta.

A propósito disto, outros dois links que gostei de ler:
Tempo de Qualidade, My ass - Trinta e picos, quarenta e tal
To the Parents who don´t feel like they can get it all done, Liz Curtis Faria, The Huffington Post

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