segunda-feira, 4 de maio de 2015

Siri Hustvedt


"Toda a história que contamos sobre nós mesmos só pode ser contada no pretérito. É um recuo no tempo do ponto de vista em que estamos agora, quando já não somos mais os actores da história, mas seus espectadores que resolveram falar. A trilha atrás de nós às vezes está marcada por pedrinhas, como as que João e Maria deixam atrás de si em sua primeira ida à floresta. Outras vezes, o rastro desaparece, porque os passarinhos voaram até lá e comeram todos os pedacinhos de pão ao amanhecer. A história sobrevoa as lacunas, preenchendo-as com "e" ou um "então". Fiz isso nestas páginas para continuar numa trilha que sei que é interrompida por fossos ocos e vários buracos profundos. Escrever é uma forma de rastrear minha fome, e a fome nada mais é que um vazio."*

Não conheceria esta escritora não fosse ter uma família culta que me fala e muitas vezes me empresta livros bons.
Sendo uma obra desconhecida, não sabia muito bem o que me esperava quando comecei a ler "Aquilo que eu Amava", mas o meu interesse foi crescendo à medida que avançava na leitura e que a trama do livro se adensava.
A história gira em volta da vida de dois casais amigos. O narrador é historiador de arte e escreve muitas vezes sobre o seu amigo pintor. As suas duas mulheres têm filhos ao mesmo tempo, aparecendo posteriormente uma terceira personagem feminina que casa com o pintor. Os filhos, a vida quotidiana destes casais que vivem no mesmo prédio, as questões académicas e filosóficas ligadas ao seu percurso profissional (pintura, história da arte, psicologia, poesia), tudo cabe neste livro, como cabe na nossa vida e como, estranhamente, acabará por fazer também parte da nossa morte.
Fiquei com vontade de ler todos os livros dela!

Para saber mais: Siri Hustvedt 

(* Li a versão brasileira, que transcrevi aqui)

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