terça-feira, 31 de maio de 2016

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Foi há instantes.
Tinha acabado de sair do carro e uma senhora chamou-me. Agarrou-me no braço como a minha avó Clotilde costumava fazer e disse-me:
"Vá dizer aquela rapariga que aquele sítio é bom. Ela está um bocado zangada, mas aquele sítio é bom. Pode ir, por favor?"
Olhei à volta, não vi nenhuma rapariga. Disse-lhe:
"Desculpe, não percebo."
"Aquela rapariga -continuou -, ela é boa rapariga, só está um bocado zangada."
Hesitei, voltei a olhar em volta. Ela continuava a segurar no meu braço exatamente como a minha avó Clotilde fazia quando me queria dizer alguma coisa importante. Algo as aproximava e eu não queria perder esse momento.
Voltei a olhar em volta. Pedi-lhe desculpa e disse-lhe obrigada.
Quando virei a esquina, ela voltou a chamar-me, porque não era por ali, a rapariga estava mais à frente.
Disse-lhe outra vez "obrigada" e continuei.
Tenho muitas dificuldades em fazer diagnósticos de loucura logo assim, no primeiro instante.
Também tenho muitas saudades da minha avó Clotilde.

1 comentário:

panaceia disse...

Não sei se a crise afectou as pessoas só em termos financeiros. Se foi só o desemprego, ficar sem a casa, sem dinheiro, sem colegas e amigos.
Sei que tudo isto mexeu imenso com as pessoas.
Algumas isolaram-se, outras partiram para outros Países... outras ficaram loucas.
Tenho assistido, cada vez mais, a este tipo de situações. Acontecimentos que me deixam sempre com uma mágoa e tristeza enormes.
Por vezes as lágrimas quase saltam...
Beijos