quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O quarto dele







"É costume, à noite, todas as boas mães, depois de os filhos estarem a dormir, inspeccionarem os seus espíritos e porem as coisas no seu lugar para a manhã seguinte, colocando nos lugares próprios muitas das coisas que andaram desarrumadas durante o dia. Se pudessem ficar acordados (mas claro que não podem), veriam a vossa mãe a fazer isso e achariam muita graça observá-la, é muito parecido com arrumar gavetas. Vê-la-iam de joelhos, alegremente, espero, de volta de algumas das vossas alegrias, pensando onde teriam ido descobrir aquilo, fazendo descobertas muito agradáveis e outras menos, apertando isto contra o rosto como se fosse um gatinho e afastando apressadamente outra coisa. Quando acordam de manhã, a maldade e as paixões ruins com que se deitaram foram dobradas e guardadas no fundo da vossa mente e, por cima, lindamente arejados, estão estendidos os vossos pensamentos mais bonitos, prontos para serem usados."
J. M. Barrie, Peter Pan

Às vezes imagino-o grande, maior que eu. Outras vezes tenho saudades do dia em que o trouxe pela primeira vez para casa. Às vezes espanto-me com tamanha evolução. Outras vezes choco-me porque já quer fugir dos meus braços e andar por aí. Às vezes quero que ele aprenda as coisas rápido. Outras vezes quero-o sempre bebé. Às vezes ando tão cansada por não dar conta da lide doméstica. Outras vezes tudo pode estar um caos, que eu sou a mulher mais feliz do mundo. Às vezes quero que ele durma. Outras vezes, se já está a dormir há muito tempo, quero que ele acorde porque já tenho saudades.
Existem sentimentos mais ambivalentes do que os de uma mãe?

Nas fotos: o quarto dele. Passou a dormir lá no Sábado. Faz-me confusão já não o ter tão perto à noite, mas não tem corrido mal e ele adora.

Há um ano

Há um ano tinha uma barriga do tamanho da lua (quando está cheia). Andei o dia inteiro para trás, para a frente, para trás, para a frente. Subi e desci para o 3º andar pelo menos 4 vezes. Fui à loja dos 300 (nunca ganhei o hábito de dizer "loja do €1,5") e comprei uma caixa (hoje de ferramentas) e pegas para a cozinha (péssimas porque são de um material inflamável!). Andei tanto no Alto dos Moínhos que quase fui ao Hospital dos Lusíadas. Ao princípio da noite limpei não sei o quê (algo na cozinha, acho). O Cavaco ia falar ao país sobre as escutas. Pensava: "se ele nascer amanhã não vejo o último episódio do Dexter." Vi o Jornal da 2 debruçada sobre a bola de pilates (imprescindível para qualquer grávida). O Cavaco nunca mais falava e eu disse ao Ivo: "Temos de ir para a maternidade". Às 2h40 da manhã tinha o bicharoco ao colo. Não chorei como nos filmes mas agora, sempre que me lembro, choro.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Quase um ano...



Ele, o cão e o tapete novo

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"Os melhores museus estão onde menos se espera"


Através de um outro blog (Dias que voam) descobri este fantástico artigo da Alexandra Lucas Coelho sobre pequenos museus. Tem tudo a ver com o post anterior e faz-me lembrar que há muito quero fazer uma lista de pequenos museus a visitar em Portugal.

"Gostamos de museus. E temos bons museus - alguns com prémios internacionais, e nem sempre os mais óbvios. Guardámos selvas empalhadas, ânforas romanas, latas de sardinhas, pentes pré-históricos, dados viciados, chapéus de feltro, e até a cadeira onde Camilo se suicidou. Houve alturas em que corremos o risco de nos esquecermos de nós próprios. Boas notícias: afinal não vamos perder a memória.

Viagem rápida pelo país. Cinco museus: Portimão, Penafiel, Casa de Camilo em São Miguel de Seide (Famalicão), Museu da Chapelaria em São João da Madeira, e Museu da Ciência em Coimbra. Podiam ser outros, é verdade, mas estes contam histórias diferentes umas das outras; foram, vários deles, premiados; fazem, quase todos, parte da Rede Portuguesa de Museus, que em 2010 celebra dez anos; e são, todos eles, exemplos de vontade, persistência, teimosia, e prova de que não deitar fora uma velharia pode afinal ser uma decisão de grande importância. Enão ficam nem em Lisboa nem no Porto.
(...)
E assim, graças ao Marquês de Pombal e ao pescador que um dia encontrou uma ânfora em Portimão, aos amigos de Camilo e ao farmacêutico de Penafiel, aos chapeleiros de São João da Madeira e ao rio Arade, que guardou o passado para o devolver quando achou que, finalmente, lhe íamos dar atenção - graças à teimosia e à visão de todos eles parece que, afinal, não vamos perder a memória. "

(Alexandra Lucas Coelho, Ipsílon/Público, 25-08-2010)

Nota: foi também Alexandra Lucas Coelho a escrever no mesmo jornal o artigo sobre "O Museu da Inocência". Terá sido concidência?

Nota 2 - A imagem é do blog do Museu da Chapelaria. Eu nunca lá fui.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Museu da Inocência


“Os verdadeiros museus são lugares onde o Tempo é transformado em Espaço” (p.614)

Andei, durante mais tempo do que seria suposto, acompanhada pela história de Kemal Bey e Füsun. Numa primeira leitura poderíamos pensar que se trata de um romance demasiado obsessivo. Mas a paixão não é sempre obsessiva? Claro que este livro é uma história de amor, mas é a mais bela história de amor que alguma vez li num livro, vi no cinema, li num poema ou ouvi numa música. É uma história cheia de paciência, de lirismo, de humildade, de inocência, claro.
Numa segunda leitura deparamo-nos com a Istambul dos anos 70, num retrato tão fiel que quase acredito ter lá vivido. A forma como o autor nos vai descrevendo todos os locais por onde passou com a sua amada, ou onde simplesmente viu o seu “fantasma”, as personagens com quem se cruza, os objectos que vai freneticamente coleccionando dão uma lição aos sensaborões museus da cidade que existem por esse mundo fora. O Museu da Inocência poderia muito bem transformar-se no Museu da Cidade de Istambul, ou não fossem as cidades mais que memórias daqueles que as habitam.
Na leitura que fiz deparei-me com o tema que mais me importa: os museus. Na minha tese, a determinada altura, comparo, estabelecendo semelhanças e diferenças, o acto de ler um livro ao de visitar um museu (1). Não pensei que um pudesse completar outro, mas neste sentido Orhan Pamuk é um génio:

Foi nessa noite que compreendi que o meu museu precisava de um catálogo anotado, relatando detalhadamente as histórias de cada uma das suas peças. Sem dúvida isso passaria também a fazer parte da história do meu amor por Füsun e da minha veneração”
(…) um escritor teria de redigir um catálogo da mesma forma que escreveria um romance. Mas, não tendo a menor vontade de tentar escrever eu mesmo tal livro, perguntei-me: quem poderia fazê-lo?
Foi assim que acabei por procurar o estimado Orhan Pamuk, que narrou esta história em meu nome e com a minha aprovação.
” (p. 616)

Os objectos como forma de imortalidade

Não sei se acontece com os outros, mas em mim é comum. Muitas vezes guardo objectos que nada têm de especial porque sei que, com essa recolha, prolongo o momento que nessa altura estou a viver. Há dez anos que me acompanha uma belíssima pedra que apanhei na praia em Barcelona, assim como um pedaço de madeira gasto pelo mar de Sines. São também alguns os objectos que, com carinho, guardo do meu avô Cesário: o chapéu de chuva - negro, grande, pesado e com varetas fortes - e a cafeteira azul onde, todas as noites, preparava o café de cevada para beber no dia seguinte (na noite em que morreu preparou o último, que a minha avó demorou a deitar fora). Também durante nove anos, Kemal Bey vai surripiando objectos que lhe fazem lembrar a sua amada. Lhe fazem lembrar? Mais do que isso, estes objectos prolongam a presença de Füsun e suspeito mesmo que, a determinada altura, os objectos e Füsun são uma e a mesma coisa.
Neste sentido, Orhan Pamuk destroí a sentença de Adorno de que os museus se assemelhariam a mausoléus, porque o museu de Kemal Bey é a sua única hipótese de sobrevivência e também a única forma que tem de amar Füsun.

O poder de um objecto jaz indubitavelmente nas memórias que guarda em si, e também nas vicissitudes da nossa imaginação e das nossas memórias.” (p.397)

Os guardas dos museus

Pamuk é inteligente noutra coisa: ele percebe como os museus e, mais especificamente os objectos, precisam de intermediários para poderem falar com todo o seu potencial ao visitante. Mas não fala de catálogos (pelo menos, não como os entendemos), nem de tabelas ou textos explicativos. Fala de gente, fala dos guardas do museus e sabe que a capacidade de fazer ou não falar um objecto depende do grau de amor (e, por conseguinte, de pertença) que o intermediário sente por ele.

“ – Sabe quem me ensinou que o orgulho ocupa o lugar central num museu, Orhan Bey? –perguntou-me Kemal Bey durante outra sessão nocturna no seu sótão – Os guardas dos museus, obviamente. Onde quer que fosse no mundo, os guardas respondiam a todas as minhas questões com paixão e orgulho. (…) Orhan Bey, se alguém fizer uma pergunta no nosso museu, os guardas deverão relatar a história da colecção Kermal Basmaci, o amor que sinto por Füsun e os significados de que os seus pertences se investem, com esse mesmo ar digno. Por favor ponha isto também no seu livro.” (p. 624)

O elogio dos pequenos museus

Numa altura em que (ainda) predomina o gosto por grandes museus – por vezes demasiado grandes e iguais entre si, em muito devido à disseminação do modelo “cubo branco” – Orhan Pamuk elogia a personalidade e originalidade dos pequenos Museus, deixando-nos cheios de inveja porque, à altura da sua morte, o protagonista da história tinha visitado 5723 museus (2) dos quais falava assim:

Senti um enorme consolo, esse mesmo entendimento profundo, ao vaguear pelos museus. Não me refiro ao Louvre ou ao Beaubourg, ou a outros desse tipo, ostentatórios e cheios de gente, refiro-me agora aos muitos museus vazios que encontrei em Paris, às colecções que nunca ninguém visita. (…) Sempre que passeava a sós por museus como aquele [Jacquemart-André, em Paris], sentia-me melhor. Descobria uma sala nos fundos, longe do olhar dos guardas, sempre muito atentos a cada passo que eu dava; com os sons do trânsito e das obras e o ruído urbano que ali entravam vindos do exterior, era como se tivesse entrado num domínio à parte, que coexistia com as movimentadas ruas da cidade mas que não lhe pertencia; e, na sinistra intemporalidade daquele outro universo, encontrava consolo.” (p. 596)

(1) “Walking through a museum is like reading a book” Mieke Bal, Double exposures
(2) entre os quais: o Museu Bagatti Valsecchi em Milão, o Museu Internacional da Perfumaria no Sul de França, o Museu da Vida Romântica em Paris, o Museu de Insectos e Borboletas La Ceiba nas Honduras, o Museu da Medicina Chinesa em Hangzhou, o Museu-Atelier de Paul Cézzane em Aix-en-Provence, o Museu Florence Nightingale, em Londres (onde também visita o Soane’s Museum) e no nosso Museu Romântico da cidade do Porto (na página 624).

Nota minha:
Por vezes, enquanto lia este livro, o meu filho de dez meses entretinha-se a meu lado com o marcador que reproduz a imagem da capa. Por isso ficou todo amarfalhado e poderia também ele fazer parte do meu “museu da inocência”.
(ver capítulo 69, "Por vezes", pp. 483-490)

terça-feira, 10 de agosto de 2010



De férias, no sítio do costume, tento aproveitar para:
escrever alguns textos que há tempos giram em volta da minha cabeça
finalmente experimentar a Diana
tentar explorar as potencialidades escondidas da minha máquina fotográfica