quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

...e um


Foi mesmo há um ano que os dois algarismos da idade que tenho mudaram. Só de dez em dez anos é que teimam em mudar exactamente na mesma data, mas parece que não me acontece só a mim. Há até quem tenha mais experiência no assunto, pois foi só a terceira vez que tal coisa me aconteceu. Devo confessar que não me custa muito ir vendo a escala ascendente que levam estes algarismos, pelo menos não no sentido em que fico mais velha. Claro, fico mais velha. Mas também ganho outras coisas. Aos quinze era demasiado idealista, aos vinte acho que não era feliz pelo que estou em crer que me assemelho aos vinhos... (que parvoíce de comparação, mas aos quarenta será melhor).
Pelo contrário, o que realemente me aflige é o que ainda não fiz, o que ainda não consegui comigo, com os outros e com o mundo. Por exemplo:
- não li os livros do Proust
- não vi o Breakfast at Tiffani’s
- não fui a Nova Iorque, nem a Kioto (aliás, nem a Londres. Mas daqui a uns dias estarei em Berlim)
- o meu ordenado ainda nem atingiu os mil euros (nem os 800!!)
- não acabei o mestrado (faltam 4 dias para a parte curricular e 400 para a tese)
- ainda não tenho um cão (e nem um gato)
E, sobretudo, ainda não tenho um bébe a quem dizer que a mãe tem mais um ano, mas não se importa. Assim, se calhar, já me importo mais.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Nada como um bom amuo


Encontrei esta música dos Clã e fiquei muito contente… É que eu sou de amuos e nunca tinha encontrado nada a defendê-los!
Lembrei-me de quando tinha 15 anos, de quando tinha 16, de quando tinha 17, de quando tinha 20, de quando tinha 25… E lembrei-me também que, agora que chego aos 30, reconheço os benefícios de um bom amuo. Para “depois voltar, como se nada fosse, e reencontrar o lugar guardado por um bom amuo”.
(e não me contrariem porque eu não gosto).

“Vejo que estás mais crescida
Já dobras a frustração
Bates com a porta ao mundo
Quando ele te diz não

Envolves o teu espaço
Na tua membrana ausente
Recuas atrás um passo
Para depois dar dois em frente

Amuar faz bem
Amuar faz bem

Ficas descalça em casa
A fazer a tua cura
Salva por um bom amuo
De fazer má figura

Amanhã o mundo inteiro
Vai perguntar onde foste
E tu dizes apenas
Que saíste viajaste

Amuar faz bem
Amuar faz bem

Nada como um bom amuo
Apenas um bom recuo quando nada sai bem

E depois voltar
Como se nada fosse
E reencontrar o lugar
Guardado por um bom amuo”

(a letra é de Carlos Tê e pode ser ouvida aqui. A imagem é um quadro de Kirchner.)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Dezembro é assim…


… anoitece mais cedo e mesmo que não anoitecesse ficaríamos em casa na mesma.
O computador ligado e eu resisto, sentada no sofá, enrolada numa manta, com o chá à frente… Sim, sou preguiçosa. E não gosto! Não gosto porque no fim do dia, lá para as 11h., começo a ficar angustiada… “era para ter feito a recensão crítica e não fiz”, “devia ter aspirado a casa”, “a roupa está fora do sítio”, “ainda não comecei o trabalho sobre a gratuitidade nos museus”… E vou dormir com isto tudo na cabeça. Depois tenho pesadelos.
Ser preguiçosa é para mim a causa dos meus maiores azares, como não ganhar mais, não ser muito mais culta, não fazer mais do que faço. Apesar disso a maioria das pessoas acha que faço muito: o trabalho a tempo inteiro, o mestrado (a menos tempo do que gostaria), as explicações, o budismo, a casa… Eu, acho que é pouco. Sobretudo começo a pensar se algo disto terá alguma importância.
Talvez importante seja mesmo o chá, o sofá, um cd novo a tocar, as mãos dadas…
(e prometo voltar à recensão, à gratuitidade e ir ver o filme sobre os Joy Division para a semana).

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

“Bem-vindos”, ou a arte como espelho.


A última vez que aqui escrevi estava em Macau. Foi há mais de um mês. Mas, na volta, também voltou o trabalho, o mestrado, a casa por arrumar, os jantares para fazer. É a vida! As viagens são apenas agradáveis intervalos.
Ainda assim andava com Macau engasgado, porque existem sempre coisas por escrever (e por pensar). É o caso desta exposição, com obras que foram a concurso para representarem a cidade na bienal de Veneza.
Procurei, durante quase toda a minha estadia, uma imagem que condensasse “Macau”. Procurei-a nas ruas, nas caras das pessoas, nos templos, nas paisagens. Deveria já saber que imagens dessas só se encontram nos museus. Só a arte é capaz de tal “condensação”. Escolhi a instalação da imagem e o texto que a acompanha, ambos da autoria de Key Ut Ana e Sofia Celina Lei:

Durante um passeio com um amigo português, conversámos sobre a arquitectura portuguesa de Macau. E perguntei-lhe: “Achas que a arquitectura portuguesa de Macau é semelhante à de Portugal?”, “É semelhante em termos formais”, respondeu ele, apontando para um edifício à beira da estrada, “mas em Portugal não existem estas coisas. São horríveis!” Olhei na direcção em que ele apontava. As “coisas horríveis” a que ele se referia eram as grades nas janelas de cada andar do edifício.
Julgo que a maior parte das pessoas que, como eu, cresceram em Macau não têm opinião formada sobre as janelas gradeadas. Contudo, a observação do meu amigo levou-me a reflectir neste “hábito” particular dos residentes de Macau – por que raio havemos nós de ver o céu aos quadradinhos quando abrimos a janela?
Neste trabalho – intitulado “Bem-vindos” gostaria de utilizar as grades de janela, um traço arquitectónico peculiar de Macau, para expressar o sentimento de auto-protecção e de insegurança que as gentes de Macau sempre possuíram em demasia. As pessoas de Macau, que vivem em tais ambientes, habituaram-se gradualmente a “enclausurar-se” a si próprias
Os forasteiros sempre se admiraram com este dispositivo. No entanto, as gentes de Macau desde há muito se habituaram a esconder-se por detrás destas grades e a observar a paisagem e os vizinhos através deste prisma metálico. Nunca nos apercebemos das grades que existem, tanto no exterior das janelas como no interior dos nossos corações.
“Bem-vindos” é um convite para ver as janelas gradeadas de Macau da perspectiva de quem nos visita, como gaiolas bem à vista porém ignoradas pelas gentes de Macau – sólidas janelas gradeadas construídas no coração das gentes de Macau ao longo de várias gerações.”


Este é o texto que explica a obra.
Quanto a mim escolhi-a porque gostei das grades. Gostei destes espaços intermédios que ainda são as casas das pessoas, mas que também são espaço públicos, na medida em que são olhados, partilhados por quem passa na rua. Para mim estas construções engaioladas são bonitas e até poéticas. E adorei Macau: as ruas, as gentes, a confusão, o calor…
Não posso deixar de agradecer a todos os que me receberam e que me mostraram sítios novos: Quim, Leonor, César e Lucília. Também, e muito especialmente, à minha tia Margarida e à minha mãe. E ao meu irmão Ivo, que é o mais importante!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Templo Kun Iam Tong





Templo budista dedicado a deusa da Misericordia foi fundado no seculo XIII, mas os edificios actuais datam de 1627. E um dos maiores templos de Macau, com um grande portao de entrada e telhados adornados com fiuras de porcelana. Patios abertos separam os pavilhoes ricamente decorados dedicados aos Tres Budas Preciosos, ao Buda da Longevidade e a Kun Iam vestida de seda bordada e uma coroa em franja que e substituida todos os anos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007