domingo, 18 de janeiro de 2009

A vida (dos outros) como fotografia


"Morelli tentava em certa medida justificar as suas incoerências narrativas, defendendo que, tal como a recebemos na chamada realidade, a vida dos outros não se trata de cinema, mas de fotografia, isto é, que não podemos apreender a acção senão em fragmentos cortados de forma eleática. Não existem senão os momentos em que estamos com esse outro cuja vida pensamos que compreendemos, ou quando nos falam dele, ou ainda quando ele nos conta o que lhe aconteceu ou nos revela aquilo que tem a intenção de vir a realizar. No final temos um álbum de fotos de instantes fixos: jamais o porvir a realizar-se diante dos nossos olhos, a passagem de ontem para hoje, a primeira estaca do esquecimento na memória."
Júlio Cortázar, Rayuela

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