quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ficar K.O.


O ano começou ao contrário.
Em vez das idas ao ginásio, das melhorias na alimentação e das caminhadas por sítios fantásticos, comecei a ficar por casa, ora porque estava cansada, ora porque o M. estava doente. 
E assim - que depressão - os primeiros fins de semana do ano foram passados em casa, na molenguice e sem nada de criativo para contar. Uma neura.
Fui comprar um carro que, segundo o vendedor, conduz sozinho: aquilo tem um botão que quando activamos segue sempre à mesma velocidade e poupa-nos a trabalheira de por o pé no acelerador! Coisas da vida moderna, especialmente para mim que sempre tive carros com mais de 10 anos! Agora vou passar a ser daquelas pessoas que fala ao telemóvel com o carro e aquilo ouve-se tudo cá fora: que croma!
Entretanto fiquei afónica. Depois de ir buscar o carro novo, fui directa para o centro de saúde, onde tive de escrever num papel que queria uma consulta de urgência. A Sra., super querida, telefonou para o médico e disse: " Ó Dr., a senhora está aqui à minha frente, e nem um piu!" - e assim consegui ser atendida. O resultado foi dois dias em casa e uma dose cavalar de Zyrtec que me põe a dormir o tempo inteiro e, se não me engano, também me põe com sintomas depressivos! Uma neura, digo eu outra vez!
Mas um futuro melhor se avizinha, afinal tenho apenas um mês para me despedir dos 38 anos e domingo vamos ver-nos livres do Cavaco (mas por favor, não votem na matraca faladora, que aquilo dá-me dores de cabeça).

A fotografia não tem nada a ver, é de uma caminhada que fiz em Sines, no dia 2 de janeiro. Não tinha mais nada para por.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Obrigada 2015

Foi um ano de regressos:
A Cabanas (omardoAlgarveéomardoAlgarve), à Corte do Pinto (terra dos meus avós e bisavós), a Barcelona (ainda que só por uma tarde).
Foi um ano de sítios e coisas novas:
Budapeste, Munique e Tarragona. O primeiro ano do ensino obrigatório do meu filho, as primeiras letras. Uma tartaruga e o coelho Sanção em casa.
Foi um ano que me trouxe mais do que esperava e não me deu nada de mau. Devo estar agradecida, suponho.
Chegamos a uma altura da vida em que sabemos que já nada é épico, que o dia a dia se renova, às vezes com pequenas boas surpresas, outras vezes em dias que não acabam e nos parecem - e nos tornam - insuportáveis.
Somos felizes nas pequenas coisas, como num poema, uma tangerina, a frase de um livro ou uma música. Não queremos sabem de gurus, nem de gente que teima em nos ensinar a sermos melhores, mais magros, mais felizes - esqueçam, isso não existe! Tanto as lágrimas como os risos, tanto os gritos como os beijos fazem parte da vida. Só assim somos humanos.
Não tenho muitos desejos para 2016. Desde que sou mãe que isto me acontece: o quero é estar perto do M. o máximo tempo possível, vê-lo crescer, rir, chorar...
Mas dias de sol e mar e janelas com vista para cidades antigas são sempre bem vindas.

(fotografia tirada em La Cerería - se forem a Barcelona passem por lá)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

"Mãe, fazes uma corrida comigo?"


"Não. Estou cansada, filho." - é a resposta que me vem imediatamente à cabeça, mas que raramente digo.
Afinal de contas ele é meu filho e só quer correr.
Correr até à próxima porta, ao próximo poste, àquela mancha de alcatrão mais escuro.
Ele quer correr e ganhar - e eu quase já não preciso de fingir para o deixar chegar primeiro.
No fim destas curtas e frequentes corridas, destes momentâneos sprints, a que quero sempre dizer não, sinto-me feliz. Uma felicidade pura e despreocupada de quem apenas só correu um pouco, mas serviu para fazer o miúdo feliz.
Talvez para o ano devesse correr mais.

(Esta fotografia foi tirada pelo meu irmão, enquanto corríamos numa aldeia do Alentejo)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pedras, paus e livros.





Nunca fui muito de colocar objectos em estantes, para além dos livros, mas agora parece que a minha casa assume uma vida diferente e que o próprio mundo faz questão de vir habitá-la de uma outra forma.
Desde pequena que acontece apaixonar-me por coisas insignificantes como pedras e paus que se cruzam no meu caminho. Tenho, por exemplo, algumas pedras que trouxe do tempo de Erasmus em Barcelona e que continuam a permanecer cá por casa. Tenho pedaços de madeira que encontro na praia ou raízes que encontro em jardins. Talvez estas coisas que acumulo acabem por me definir, ou pelo menos, ajudam a recordar-me que os sítios por onde passo e o que neles encontro fazem parte da minha história. Tanto como os livros que leio e as personagens que vivem dentro deles. Alguém que entrasse em minha casa poderia traçar um fiel retrato de mim, só pelas coisas que tenho nas prateleiras (sim, especialmente pelos livros, mas também por tudo o que vou acumulando ao lado).
Ultimamente, seres estranhos e materiais de arte vêm também para às estantes, fruto dos gostos do M. que são partilhados pelo resto da família.
E é assim, estas são as nossas estantes, estes somos nós.

E por isso, tudo isto é tão verdade: Our (bare) Shelves, Our Selves

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

os maravilhosos desenhos dele

Quando, no fim do ano escolar, o M. trás as pastas da escola, cheias de desenhos, fico sempre maravilhada. Eu sei que todas as mães adoram os desenhos dos filhos, e que isto não é nada de especial... Mas para mim, que até sou historiadora de arte, são mesmo das melhores coisas que existem.
Ele desenha muito. A nossa casa parece um atelier porque eu nunca o proibi de desenhar em nenhum sítio: existem desenhos na mesa de refeições, nas paredes, na porta de casa, na mesa de trabalho. As outras mães, mais arrumadas e fãs da limpeza devem achar um sacrilégio, mas para mim, qualquer desenho dele é uma maravilha, ou uma tentativa - e ambas são igualmente válidas!
Este ano, com a aprendizagem das letras e a ter de fazer tudo direitinho, tenho alguma receio que os desenhos se tornem menos espontâneos... Ando sempre a espreitar, a tentar ver como as coisas evoluem.
O que eu gostava mesmo, mesmo é que ele nunca deixasse de desenhar!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Cheiros para desembrulhar


As primeiras prendas de natal vêm com o bom gosto e o cheiro da Saponina!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015


 Dei por mim a ser a bibliotecária de serviço lá no museu. Receber livros novos, poder lê-los (mesmo que seja em diagonal) é um privilégio. Mas as bibliotecas, como os arquivos, são sítios de arrumação – locais onde tudo tem um lugar próprio e exacto, onde não pode haver dúvidas. Tudo certo, claro. Não fosse o problema de ter um espírito pouco dado a normas e muito dado a dúvidas. Este livro do García Lorca, por exemplo, deu-me voltas à cabeça e ficou à espera durante muito tempo. Ele podia ser catalogado em todas as categorias, mas também não cabia em nenhuma. Ou seja, catalogar García Lorca, embora necessário, parecia diminui-lo, apequená-lo e seria até injusto. Óbvio que tive de o fazer, como o fizeram inúmeros bibliotecários e livreiros antes de mim. Teriam também eles dúvidas? Para me redimir deixo-vos este retrato de olhos doces que é a capa da edição da Assírio & Alvim e isto: “Chegado este momento, vemos os amantes a abraçarem-se nas ondas.” Federico García Lorca