terça-feira, 17 de setembro de 2013

Meia hora a sós com um Rothko


O Brian Cohen escreveu um artigo sobre a maneira correcta de visitar um museu (existe mesmo uma?)  e eu fartei-me de rir porque, na prática, poderia ter sido eu a escrevê-lo, ora vejam lá:

"To get the most out of your museumgoing experience, I recommend the following:

1. Avoid docents. If a docent enters a room, leave immediately (...).

2. Get out of sync with people with the big headphones; they move at a predetermined and predictable pace, and only when the recording tells them to. (...)

3. Establish and protect your space in front of a painting* for as long as you'd like. Don't let anyone get between you and the art. (...)
* Sculpture is what you bump into when you back up to see a painting -- Barnett Newman

4. Avoid the guards or pretend they're not looking at you. (...) If an alarm goes off, act like it wasn't you.

5. Go to empty rooms. Seek out at the "minor" arts like drawing and printmaking, or non-European/American art (no one will be there).

6. Don't look at everything on view; not everything is equally worthy of your attention, nor do you have the stamina to see it all. (...) Pace yourself; sit down when you can, and leave the museum before you're exhausted.

7. Avoid peak hours, blockbuster shows, and popular masterpieces. You can claim to have seen the Mona Lisa without having looked at it; no one will know. Go when conditions are more favorable.

8. Go alone and don't interact with anyone. Surround yourself in an aura of invisibility and inviolability. You are there not for an interpersonal but for an inner experience.

9. Act like you own the art. It should be yours; it's not your fault you're not rich."

Brian D. Cohen, "How to Visit a Museum" (vale a pena ler, é super cómico!)

Devo ser sincera: sou museóloga e trabalho na área de comunicação de um museu, passo o dia numa série de tarefas que têm como objectivo,embora não único, trazer mais público ao museu (esta ditadura dos números tem muito que se lhe diga) e fico contente quando isso acontece.
Mas quando sou eu do outro lado, tudo muda! Eu gosto de museus pequenos, quase vazios, silenciosos... Eu acho que a arte também é uma espécie de religião e para visitar um museu, a minha palavra privilegiada é contemplação...
A última vez que estive no Louvre odiei, foi a pior experiência da minha vida como visitante de museus... Em frente à Mona Lisa havia uma fila, ninguém podia parar, as pessoas empurravam-se e os guardas enxotavam-nas, parecíamos gado. Fugi para as salas de cerâmica medieval onde não estava ninguém, que maravilha! Fui ver umas salas de pintura que estavam vazias e descobri, por acaso, este auto-retrato do Dürer (que adoro).


É bom termos gente nos nossos museus, claro, mas a qualidade da experiência, o tempo que aqui passam e, sobretudo, se ficam ou não com vontade de voltar também conta...
E, quanto a mim, deixem-me estar meia hora a sós com um Rothko que, como diz o Brian Cohen, eu não tenho culpa de não ser rica...

(sim, as personagens femininas dos romances da Ana Teresa Pereira, lembram-se?)

sábado, 7 de setembro de 2013

Da Feira da Luz

Para mim, é sempre umas das coisas boas da reentré: a Feira da Luz em Carnide. É certo que cada vez está mais pequena, mas gosto sempre das "tendas" (?) das vergas (ai, ai, as alcofas e as cestas), das plantas, e das cerâmicas. Desta vez trouxe isto:

* Lúcia-lima: só de a cheirar fico logo mais feliz e faz um dos melhores chás do mundo (2€).

* Uma garrafa de vidro: porque estou a tentar eliminar os plásticos e esta é óptima para ir ao frigorifico com água (2€)

* Um almofariz verdadeiro! Tinha um da loja do chinês, mas é meio envernizado e os alhos saltam todos. Além disso descobri recentemente que os alhos nunca devem ser cortados, mas sim esmagados e de preferência com casca. Assim, parece que já posso fazer uma boa açorda. (5€)

* 6 canecas que achei lindas. As 6 por 2€!

* Uma figurinha de barro tradicional portuguesa, acho tão giras para o presépio que tenho vontade de ir lá comprar mais (1€).

Espero ainda lá voltar, pois fiquei de olho num vaso de hortelã da ribeira (começo a desconfiar que isto das aromáticas é um vício) e numas suculentas para o meu jardim em miniatura (um dia falo sobre ele).

 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Projecto analógico

 

Não sei o que vai dar, mas estas férias fartei-me das máquinas digitais... Já há tanta imagem por tanto lado e tudo tão pouco palpável... Levei a Diana, mas à última da hora não consegui encontrar rolos de 12mm (na fnac já não tinham), por isso, quase todas as fotos que tirei foram com esta velhinha máquina do meu pai da qual saíram todas as fotos que tenho da minha infância.

Para completar a aventura, o rolo estava fora de prazo (e agora não consigo rebobiná-lo!)

O que será, será!

 

domingo, 1 de setembro de 2013

Amnésia

E se nos esquecessemos de voltar e ficássemos para sempre junto ao mar?

 

domingo, 28 de julho de 2013

Domingos em casa

Passámos o Domingo em casa. Nós arrumamos por um lado, ele desarruma por outro (devo dizer "brinca"?). Mas entre máquinas de roupa, sopas e outros que tais [suspiro] ainda dá tempo para umas actividades que salvam o dia!

 

Sempre gostei de teatrinhos de papel (lembram-se deste?). são pequenos mundos que podemos criar do tamanho que quisermos, com as histórias e personagens mais ou menos mirabolantes... Claro que agora tenho muito menos tempo para me dedicar a eles, por isso, desta vez experimentámos um teatrinho da PUKACA e ficámos com vontade de comprar os outros da colecção. (Embora eu comece a ter muita dificuldade em organizar o quarto do M.)

 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Da gratidão



Acho que posso considerar-me uma pessoa com sorte. Diria mesmo, uma pessoa feliz (isto é um palavra tão grande).
Tive quatro avós até tarde. Ainda tenho dois fantásticos avós. Foram eles que construíram a minha infância.
O meu avó Cesário morreu quando eu tinha 23 anos. Todo ele era um sorriso. Tinha os olhos muito brilhantes e as mãos muito magras. Ensinou-me a descascar laranjas e o significado da palavra devagar. Trazia para casa "baraços" (que faziam sempre falta) e molas de roupa que encontrava na rua. Passeava e bebia café e ia dormir para o sofá quando eu ficava à noite na casa da minha avó.
Da minha avó Clotilde não posso dizer muito. O meu corpo é o dela. Uma parte grande de mim morreu com ela e jamais deixarei de sentir saudades. Os olhos da minha avó eram de água e quando digo o nome Clotilde os meus olhos tornam-se também água. Uma das minhas maiores mágoas é que não tenha conhecido o Manuel, sei tão bem como a teria feito feliz.
Mas sou sortuda. Os dois pais da minha mãe vivem. A minha avó Maria e o meu avô Manuel lutaram a vida inteira e ainda lutam, embora de formas diferentes. Nunca, nunca me vou esquecer do tempo em que cantavam à desgarrada nem das manhãs em que o meu avô saía para o trabalho e eu ia dormir para a cama da minha avó. O meu avô Manuel é a pessoa mais bonita que conheço, a minha avó Maria é a mais paciente.
Não sei quanto tempo mais os meus avós vão viver, mas acho que vão chegar aos cem anos! Mas mesmo que isso não aconteça a marca que deixaram em mim e no meu filho (mesmo que ele não sinta isso de uma forma consciente) já é bastante forte. Porque não há nada no mundo mais importante do que aprender a descascar favas ou a dançar a dança do marujinho…

Assim, sendo, que me perdoem os avós: longa vida a todos os bisavós deste mundo!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Clarice, a hora da estrela (post fora do tempo)

Acho que já foi há quase um mês que acabou esta exposição. Fui ver, apesar de ser sobre uma escritora da qual nunca li nada, incrível, não é? A Clarisse foi ficando na lista de livros/autores a ler. Foi ficando e ainda hoje lá permanece. Não deixa de ser estranho ir ver uma exposição assim, deviam proibir a entrada a pessoas como eu (brincadeira).
Conheço gente que leu Clarisse. Por duas vezes me aconteceu um episódio repetido. Alguém que me conhece chega ao pé de mim com ar de caso e diz:
- "Estou a ler um livro, "A Paixão Segundo G.H." Já leste?"
- "Não", respondo.
E quando digo "não" um abismo se abre entre mim e a pessoa, como se já nada mais pudéssemos partilhar. E depois, a leitora olha-me como se toda a sua vida se estivesse a transformar duma forma que eu jamais pudesse entender e a verdade é que muda, de uma maneira subtil mas profunda.
Depois a pessoa desaparece, às vezes para sempre.
É por isso que nunca li este livro. Vou lê-lo este verão.


E a exposição era linda, sim. E a entrevista a Clarisse, com todas as pausas, todas as hesitações e o fumo dos cigarros era maravilhosa...