quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Os filhos dos empregados que tiram cursos.

Aconteceu comigo. Um dia alguém me disse: "Agora, até os filhos dos empregados tiram cursos." Estas palavras vieram da boca uma pessoa com poder, na altura hierarquicamente superior a mim e que confessava ter saudades do tempo de Salazar.
Por isso, compreendo bem a conversa de Rui Ramos (de que o Daniel Oliveira falhou aqui) e o modo de pensar desta gente. É uma chatice que agora os pobres também estudem, ainda por cima com boas notas e com bolsas de mérito. Os filhos dos empregados, imagine-se, com mestrados e doutoramentos! Deixou de ser uma pequena minoria - endinheirada e com possibilidades - a ter acesso ao conhecimento, deixou de haver uma elite intelectual maioritariamente de direita. E isso irrita-os. A democratização do conhecimento enerva-os!
Por isso, querem privatizar - também - a investigação científica, para que seja mais fácil controlar quem tem acesso a ela.
O pior é que o Rui Ramos é historiador, teve bolsas do estado e faz parte da FCT: se não concorda com o sistema porque trabalha e usufrui dele? Para além disso, quanto menos mestrandos e doutorandos existirem, também menos professores universitários serão necessários (não é preciso saber muito de matemática para chegar a esta conclusão).
Quanto ao argumento da inutilidade da investigação, tenham juízo! Há apenas 20 anos atrás, a investigação existente em História de Arte era praticamente residual e mesmo em campos como a História dos Descobrimentos (ou da Expansão Marítima) o que existia era ínfimo em relação ao que se tem conseguido fazer graças aos institutos das universidades, às bolsas da FCT, mas também da Gulbenkian e da Fundação Oriente (entidades privadas que durante algum tempo foram a única fonte de rendimento de alguns investigadores).
Não há investigação feita em regime de hobby, a investigação é um trabalho que exige competência e seriedade e que é da maior importância para o país.
Porque um país que não se conhece a si próprio, não existe.

(Valha-me o Sérgio Godinho, que estou farta desta gente!)

domingo, 19 de janeiro de 2014

Domingo, 22:18

Diário de um fim de semana:
Natação logo ao sábado de manhã, seguida de uma ida ao Fonte Nova (loja dos animais incluída) e compras necessárias.
Almoço.
Uma máquina de loiça. Uma maquina de roupa.
Sesta (sabe tão bem).
Fatias douradas ao lanche.
Brincar com o jardim zoológico em LEGO.
Jantar.
História e dormir.
Domingo de manhã, teatro no Maria Matos.
Compras de frutas.
Almoço.
Uma máquina de roupa. Uma máquina de loiça.
Pausa.
Semear salsa e coentros. Plantar o tominho-limão.
Varrer e lavar.
Scones para o lanche.
Banho.
Arrumações e jantar.
Passar a ferro só o essencial.
Cama.
Ufa!

(Mesmo assim a casa fica sempre um caos. A fotografia é do Tomilho-limão)



terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O melhor da arte contemporânea somos nós


(de resto, como na arte de outras épocas).

Fomos a Évora mesmo no início do ano e, mesmo com chuva, a cidade continua bonita, acolhedora e - atrevo-me a dizer - romântica. Visitámos os sítios do costume, mas passámos muito tempo "fechados" numa exposição que adorei e que é - juro! - de visita obrigatória.
Está no Fórum Eugénio de Almeida - o espaço foi reabilitado e cumpre na perfeição a sua função - e chama-se "Inter[in]venção": é, como se pode ler no site, uma exposição de arte interactiva. Pergunto-me se haverá alguma arte que não seja interactiva, que não exija a presença, o olhar e mesmo o movimento do espectador/visitante (enfim, da pessoa)...
Sei que muita gente tem problemas com a arte contemporânea, que "também fazia aquilo", a quem "aquilo não diz nada" e que não compreendem... Pergunto se compreendem uma sinfonia de Mozart (porque eu não compreendo e gosto na mesma) e, confesso, mesmo com formação em história da arte também há muita arte contemporânea que eu não percebo (não percebo mesmo nada), mas acontece-me ser essa a que gosto mais!
Pois bem, tudo isto para dizer que esta exposição é das MELHORES que vi nos últimos tempos! Que me diverti imenso a jogar com bolas de sabão que não existiam e a cantar a um microfone enquanto desenhos do som da minha voz apareciam num ecrã...É obrigatória para quem NÃO gosta de arte contemporânea (esqueçam lá isso de "tentar perceber", just enjoy) e para quem gosta, não é preciso dizer nada (uma das curadoras é a Claudia Giannetti).
Boa viagem!



domingo, 12 de janeiro de 2014

Plantar o pinheiro

O Manuel, chorou um bocadinho porque diz que vai ter saudades, mas o nosso pinheiro de Natal tinha mesmo de ser plantado: deitava imensas agulhas e não iria durar muito num vaso. Escolhemos um sítio ao pé de casa para o podermos ir visitar e averiguar se está a crescer bem. Talvez no Verão possamos levar-lhe água, embora suponha que não precise. Por agora, rezo que não venham ventos fortes enquanto não agarra bem as raízes à terra.
Tem uma longa vida, pinheirinho de terras distantes!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Dos dias de chuva....

Sempre cinzentos, aborrecidos... Não fossem as galochas amarelas e um chapéu de chuva com orelhas de Mickey! E o meu olhar sempre sempre apaixonado!
Já vos disse que este miúdo é maravilhoso?

sábado, 4 de janeiro de 2014

Passeio de hoje

Pelas terras do costume, em Sines, mas por sítios que ainda não conhecia, como a Capela de São Bartolomeu, perto da Ribeira dos Moínhos.
E estas ocupações humanas, improvisadas, precárias e belas.





Ano velho, ano novo

Não era das minhas alturas do ano preferidas, parece sempre que é obrigatório uma pessoa divertir-se por causa de uma mera mudança de calendário. Mas agora chegou o tempo em que dou importância a balanços e em que acho que as determinações são uma forma de avançarmos e de conciliar o nosso quotidiano, sempre tão voraz, com aquilo que realmente queremos para as nossas vidas.

2013 foi para mim um ano bondoso: o Manuel está um rapaz maravilhoso, finalmente comecei a receber de acordo com o meu trabalho e habilitações (embora com um prazo limitado), li mais livros e melhores e escrevi mais no blogue.

Dizem que se deve partilhar as determinações, ou pelo menos escrevê-las, para que, ao longo do ano, seja mais fácil segui-las. Na verdade, na meia-noite da passagem de ano nem sequer me lembrava de nenhum desejo para pedir com as costumeiras doze passas, mas agora parece-me que as coisas já se esclareceram mais na minha cabeça. Assim:

- menos cidade, mais campo

- passear mais

- fazer mais pequenas pausas, passar mais fins-de-semana fora

- vida é movimento: correr e fazer ginástica

- fazer ioga com o Manuel uma vez por semana, com o libro "O meu pai é um biscoito"

- escrever é sempre um exercício de memória passada mas também futura,

E outras que roubei daqui:

- da Susan Sontag: "Starting tomorrow — if not today"

- da Marilyn Monroe : "keep looking around me — only much more so — observing — but not only myself but others and everything — take things (it) for what they (it’s) are worth"

Para planear tudo cá por casa há sempre um calendário (estes são da APCC) e na mala uma agenda (não prescindo de uma em papel, que é onde aponto tudo).

Feliz 2014!

 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Sem título

"Durante meses as suas palavras atormentaram-me. A ideia de que alguém podia viver para ser meu espectador era estranha. Mas pensar que ele escrevia a minha história era ainda mais inquietante. Tudo o que fazia ganhava uma importância nova, todos os meus actos eram terríveis, porque se transformavam em palavras."

AnaTeresa Pereira, "A Rua sem Nome"