quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Os cantos da casa, os cantos da alma

Fui visitar os meus avós no domingo. O meu avô tem 85 anos e a minha avó 84. Todos os dias fazem uma (ou duas) caminhadas pela estrada que se prolonga para lá da aldeia.
Quando vou com eles fico cansada.
No lado direito da estrada há um eucaliptal. Costumo trazer eucalipto para secar ou só para enfeitar a casa.
Cheira bem e faz-me lembrar os passeios com os avós.
É só isto é, às vezes, isto é tudo.

"Temos o instinto dos pássaros"

"É um mundo estranho, o nosso. O mundo que os outros pressentem quando se perdem num bosque ou quando o vento que entra pela janela apaga a única vela acesa no quarto.
Tenho a impressão de que caminhamos o tempo todo, nos bosques, entre os juncos, à volta da casa. Os nossos vultos escuros, os olhos muito azuis, os passos pesados. É estranho, mas perdi a leveza.
As velhas árvores reflectem-se no lago. Os ramos queperderam as folhas desenham-se entre os fetos aquáticos, os corações flutuantes, a merecem da água. As folhas esvoaçam ànossa volta, arrastadas pelo vento, mas não nos tocam. Já nada nos pode tocar.
Temos o instinto dos pássaros que vigiam os lugares onde esperam encontrar uma pressa: o cimo das torres, às margens do lago, os recantos mais escondidos do jardim. Desenvolvemos mais do que nunca, o hábito de espreitar pelas janelas, de espreitar pelas portas entreabertas.
O hábito de viver nas escadas."
Ana Teresa Pereira, A Outra
Images da caps: April Love de Artur Hughes

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Verão 2014








É verdade, dois anos depois revelei as fotos da Diana que tinha tirado nas férias de 2014. È que entretanto a embaixada lomográfica de Lisboa fechou e não sabia muito bem onde as revelar até que uma amiga me falou na Print Factory  e fizeram um ótimo serviço.
è pena que a fotógrafa não corresponda... Nesse ano esqui-me de tirar a moldura de tirar em pequeno formato e fotografei em grande, apanhando a moldura a preto. Depois, como não fotografo muito, de uma ano para o outro esqueço-me dos erros que cometi e volto a fazer tudo igual.,.
Mas mesmo assim, vale a pena, eu até gosto das pequenas inperfeições e das coisas estarem meias desfocadas, acho que ficam mais parecidas com as imagens que a nossa memória vai retendo.
Não alterei mesmo nada nestas imagens, até a moldura ficou.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A bonita beldroega


Conheço as beldroegas desde os tempos de criança, quando ia ao Alentejo com os meus avós, mas em Lisboa era difícil encontrá-la se ainda hoje continuam a ser escassas. Provavelmente não eram "assunto" de sopa em todo o país. O meu sogro diz que nas beiras muito do que se comia no Alentejo era considerado ração para animais: é o caso das beldroegas e das bolotas.
Não é de estranhar, o baixo Alentejo é uma terra seca e tudo o que brote dela é quase um milagre e os alentejanos sabem aproveitá-lo bem. Em pequena comi sopa de beldroegas feita pela minha avó Maria (e continuo a comer os seus maravilhosos gaspachos e açordas); agora raramente a faço não só porque é difícil encontrá-las como também levam tempo a arranjar (o que é impeditivo para uma mãe que chega a casa depois das 19h). Mas o miúdo apaixonou-se pela sopa de beldroegas da minha sogra, que é igual à da minha avó, por isso estas férias voltei a fazer a sopa. Embora não tenha sido tão bem sucedida como as avós foram, deixo-vos a receita, para poderem experimentar.

Sopa de Beldroegas
Refoga-se uma cebola picada e um dente de alho, só até ficar dourado. 
Junta-se depois as folhas de beldroegas até amolecerem um pouco. Coloca-se água e uma ou duas batatas às rodelas de 1cm, deixa-se cozer. No fim põem-se os ovos a escalfar nesse caldo (tantos quantos os comensais).
Numa taça coloca-se pedaços de pão de dias anteriores e deita-se o caldo com todos os ingredientes por cima.
Espera-se um pouco e serve-se. 
A consistência deve ficar tipo açorda, por isso o caldo deve ser abundante.

Boa sorte e bom apetite.

(Por essa internet fora podem encontrar artigos sobre os inúmeros benefícios das beldroegas)


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A vida é no verão






É passar 24 sobre 24 horas com o M., tão diferente do resto do ano em que andamos sempre a correr.
É saber lidar com a birras e exigências de uma criança de 6 anos. Saber identificar o cansaço e perdoar todas as horas passadas a ver televisão (afinal de contas ele teve um ano bem duro).
É não saber como escapar à Ria Formosa e às águas quentes de Cabanas.
É comer gelados todas as noites, porque os gelados da Delizia são indiscritíveis (mas podem ler sobre eles aqui)
É já não saber o que é ir ao mar descansada, porque tudo são jogos de bola, corridas a nadar ou combates contra as ondas.

É saber que no fim, muitas das memórias felizes serão as destes dias de verão.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Último dia do 1º ano



Para mim foi ontem que tudo começou. 
Ele subiu as escadinhas com a mala carregada de livros às costas e lá foi.
Foi ontem que a professora me disse: "Ele é tão engraçado! Mas é um bocadinho preguiçoso..."
Foi ontem que fui chamada à escola porque ele distraia os colegas do lado...
Foi ontem que fiquei em pânico porque a professora se foi embora para dar aulas no outro lado do mundo.
E agora, dou-me conta que foram muitos "ontens"... Muitos dias em que subimos as escadinhas para as voltar a descer ao fim do dia.
Muitos dias de trabalhos de casa, de letras novas, de contas com o ábaco. E agora, apenas uns meses depois, ele lê sozinho e faz contas de cabeça - e eu fico pasmada como é que se aprende tanto em tão pouco tempo.
Fico maravilhada e penso, como as outras mães pensam dos seus: "O meu filho é tão inteligente!"
Foram dias às vezes difíceis, mas sempre maravilhosos! 

E a ti, meu querido M, parabéns! E um desejo: que aprendas sempre, que tenhas sempre vontade de conhecer novos caminhos, que nã te falte estrada para andar! (Afinal foram três)

(as fotografias são resultado de entretengas minhas no Sketches)

terça-feira, 31 de maio de 2016

-*-

Foi há instantes.
Tinha acabado de sair do carro e uma senhora chamou-me. Agarrou-me no braço como a minha avó Clotilde costumava fazer e disse-me:
"Vá dizer aquela rapariga que aquele sítio é bom. Ela está um bocado zangada, mas aquele sítio é bom. Pode ir, por favor?"
Olhei à volta, não vi nenhuma rapariga. Disse-lhe:
"Desculpe, não percebo."
"Aquela rapariga -continuou -, ela é boa rapariga, só está um bocado zangada."
Hesitei, voltei a olhar em volta. Ela continuava a segurar no meu braço exatamente como a minha avó Clotilde fazia quando me queria dizer alguma coisa importante. Algo as aproximava e eu não queria perder esse momento.
Voltei a olhar em volta. Pedi-lhe desculpa e disse-lhe obrigada.
Quando virei a esquina, ela voltou a chamar-me, porque não era por ali, a rapariga estava mais à frente.
Disse-lhe outra vez "obrigada" e continuei.
Tenho muitas dificuldades em fazer diagnósticos de loucura logo assim, no primeiro instante.
Também tenho muitas saudades da minha avó Clotilde.

terça-feira, 3 de maio de 2016

É tarde. (Confissões de uma mãe de um filho único)

Até aqui tinha sido cedo.
O M. era pequeno e continuou pequeno durante muito tempo. A primeira infância é um tempo muito inteiro e muito intenso. Esperava ser uma mãe maior, mas tudo o que sou - corpo, cabeça, coração - foi ocupado por este bebé que agora é um rapaz, cada vez maior, cada vez maior.
O amor não se explica nem se escreve, mas ocupa-nos totalmente. Desde o primeiro momento em que soube que estava grávida, este corpo nunca mais foi só meu.
Nunca pensei ser mãe de um único filho. Dois foi sempre o número mínimo, sendo três o ideal. Mas até agora foi sempre cedo para o segundo. Por razões sentimentais, financeiras, históricas, sociais - sim, isso tudo! Porque a forma como idealizamos e educamos um filho hoje não tem nada a ver com o que era exigido há uns 20 anos atrás.
Foi sempre cedo. E agora, que começo a por a hipótese de ter -finalmente - um segundo filho, é tarde. Durmo mal, acordo de noite com preocupações e cheia de medo. Ao segundo, uma pessoa sabe ao que vai. Sabe que terá de ser com o segundo o que foi com o primeiro - esse, que nos ocupa ainda todo o corpo e coração - e tem medo de falhar. 
É tarde, eu tenho quase quarenta anos. Será tarde para o M. partilhar tudo o que até agora conquistou com um ser muito, muito mais pequeno. Será tarde para partilhar um quarto que até agora foi só dele. Será tarde para partilhar os pais.
Assalta-me de morte o medo que ele deixe de gostar de mim, de o considerar uma espécie de traição, de perguntar: "Porque não te bastei eu?"
O nascimento de um bebé é uma experiência avassaladora, totalmente monopolizadora da mãe nos primeiros tempos. Temo que não seja fácil para ninguém. Também eu sou a irmã mais velha. Os meus três irmãos são maravilhosos mas confesso que a cada um sentia que perdia um pouco dos meus pais. As atenções dividem-se e acredito que tudo em nós se divida também.
Eu sei que todas as "mães-de-muitos" que por aí me estão a ler, falam no milagre da multiplicação. Da multiplicação do amor e de tudo o mais. E talvez seja verdade, mas eu ainda não consigo ver esse ponto de chegada.
O que eu sei é que acordo a meio da noite cheia de medo e penso que talvez seja tarde...

sábado, 16 de abril de 2016

Diário

Não sei porque continuo a regar um jardim que não existe.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Teatro São Luiz


De vez em quando vamos ao São Luiz. Tem uma óptima programação para os mais novos e é um teatro tão bonito!!!
Desta vez tinhamos ido ver filmes mudos com música ao vivo, os "Filmes Pedidos".
Garanto que todos os espetáculos são bons, é só escolherem o que mais gostam.
Já temos agendado o concerto da Capicua.
(É tão bom podemos partilhar momentos destes com os nossos filhos!)

Palácio Nacional de Mafra





Já foi uma visita feita em Fevereiro, quando aproveitámos para ir à aldeia José Franco (ia lá em pequena e adorava) e ao Palácio de Mafra. Às vezes não damos valor às coisas fantásticas que estão perto de nós!

A Luz de Lisboa



 

"Não te demores - o sol anda a deitar-se
sem pudor
em todos os telhados, e a luz esmorece"
Maria do Rosário Pedreira

São os últimos dias para ver a exposição "A Luz de Lisboa", que é única e cinematográfica, como sabemos e sentimos.
O sítio, com uma grandes janelas moldura em frente ao Tejo, não podia ter sido melhor escolhido.
Das minhas obras preferidas, aqui fica "The mirror suitcase man" do Rui Calçada Bastos (aqui contaminada por um reflexo da janela).

Janela Moldura


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Quinta do Pisão - Um passeio no Inverno









Da visita à Quinta do Pisão  - que já foi feita em Janeiro - saíram estas fotografias.

è um sítio muito bonito para passear, fazer piqueniques e, sobretudo, ir à horta biológica apanhar os alimentos e depois pagá-los (tem mesmo coisas ótimas).

Prometo voltar lá mais vezes!


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Liberdade (que não está a passar por aqui)

O M. está no 1º ano de um escola pública. Tem, como a maioria dos seus colegas, 6 anos.
Entra às 9 da manhã e devia sair às 17h30. Não sai às 17h30. Sai sempre depois das 18h40, que é quando eu chego à escola. Normalemnte está rabujento porque raramente come o lanche da tarde como deve ser.
Sejamos claros: o meu filho, a esta hora, está extenuado, enervado, com os níveis de acúcar em baixo e parece uma pequena fera. Eu compreendo. Canso-me, mas compreendo!
Às segundas, quartas, quintas e sextas a criança traz trabalhos de casa. Amaldiçou a professora. São coisas pequenas, mas são trabalhos. São obrigações a que ele tem de responder e a que eu tenho de juntar a uma parafernália de obrigações domésticas.
A esta hora, antes de ser mãe, sentava-me no sofá 10 minutos ou meia hora. Agora já não posso e não me queixo, mas acho sinceramente que o míudo devia ter esse direito. O direito a procrastinar, a parvejar, a rabujar, a ver tablet. Não tem. A sério que amaldiçou a professora (no outro dia ela mandou fazer os números de 1 a 20, cada um deles numa linha e até ao fim. Não vejo utilidade nenhuma nisto!)
Aos fins-de-semana, os trabalhos são maiores. Os dele e os meus. E eu não consigo... Distraío-me com a roupa para dobrar ou tenho ataques de nervos com a desarrumação da casa...
Apetece-me fugir e foi o que fiz, com ele atrás, mesmo depois de ter resmungado que queria ir para um museu e não para um jardim.
Levámos a bola e a manta do pic nic e também levámos os restos dos TPC, que o pai já tinha feito com ele o resto. Foi melhor assim,
Devia ter mais coragem na fuga. Devia escrever à professora a dizer que o meu filho não faz mais trabalhos de casa. É uma violência para toda a família!
E sinto que a nossa liberdade acaba cedo, demasiado cedo para que possamos ser livres o resto da nossa vida.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ficar K.O.


O ano começou ao contrário.
Em vez das idas ao ginásio, das melhorias na alimentação e das caminhadas por sítios fantásticos, comecei a ficar por casa, ora porque estava cansada, ora porque o M. estava doente. 
E assim - que depressão - os primeiros fins de semana do ano foram passados em casa, na molenguice e sem nada de criativo para contar. Uma neura.
Fui comprar um carro que, segundo o vendedor, conduz sozinho: aquilo tem um botão que quando activamos segue sempre à mesma velocidade e poupa-nos a trabalheira de por o pé no acelerador! Coisas da vida moderna, especialmente para mim que sempre tive carros com mais de 10 anos! Agora vou passar a ser daquelas pessoas que fala ao telemóvel com o carro e aquilo ouve-se tudo cá fora: que croma!
Entretanto fiquei afónica. Depois de ir buscar o carro novo, fui directa para o centro de saúde, onde tive de escrever num papel que queria uma consulta de urgência. A Sra., super querida, telefonou para o médico e disse: " Ó Dr., a senhora está aqui à minha frente, e nem um piu!" - e assim consegui ser atendida. O resultado foi dois dias em casa e uma dose cavalar de Zyrtec que me põe a dormir o tempo inteiro e, se não me engano, também me põe com sintomas depressivos! Uma neura, digo eu outra vez!
Mas um futuro melhor se avizinha, afinal tenho apenas um mês para me despedir dos 38 anos e domingo vamos ver-nos livres do Cavaco (mas por favor, não votem na matraca faladora, que aquilo dá-me dores de cabeça).

A fotografia não tem nada a ver, é de uma caminhada que fiz em Sines, no dia 2 de janeiro. Não tinha mais nada para por.