“ A curiosidade é um novo vício que foi estigmatizado pelo cristianismo, pela filosofia e até por uma certa concepção de ciência. Curiosidade, futilidade. A palavra, no entanto, agrada-me. Sugere-me algo completamente diferente: evoca “preocupação”; evoca o interesse que cada um tem pelo que existe e pode existir; uma disponibilidade para encontrar o estranho e o singular naquilo que nos rodeia; uma certa teimosia para quebrar o que nos é familiar e para olhar de outra forma as mesmas coisas; um fervor de captar o que acontece e o que passa; uma negligência em relação à hierarquia tradicional do importante e do essencial. Sonho com uma nova era da curiosidade. Temos os meios técnicos para isso: o desejo está lá; as coisas por conhecer são infinitas, as pessoas que se podem dedicar a esta tarefa existem. Porque sofremos? Por muito pouco: canais demasiado estreitos, acanhados, quase monopolistas, insuficientes. Não faz sentido adoptar uma atitude proteccionista, impedir a “má” informação de invadir e sufocar a “boa”. Em vez disso temos que multiplicar os caminhos e as possibilidades de idas e vindas.”
Excerto de uma entrevista de Michel Foucault, publicado na revista Cabinet
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