"Do not ask me who I am and do not ask me to remain the same: leave it to our bureaucrats and our police to see that our papers are in order. At least spare us their morality when we write." Michel Foucault
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Nada como um bom amuo
Encontrei esta música dos Clã e fiquei muito contente… É que eu sou de amuos e nunca tinha encontrado nada a defendê-los!
Lembrei-me de quando tinha 15 anos, de quando tinha 16, de quando tinha 17, de quando tinha 20, de quando tinha 25… E lembrei-me também que, agora que chego aos 30, reconheço os benefícios de um bom amuo. Para “depois voltar, como se nada fosse, e reencontrar o lugar guardado por um bom amuo”.
(e não me contrariem porque eu não gosto).
“Vejo que estás mais crescida
Já dobras a frustração
Bates com a porta ao mundo
Quando ele te diz não
Envolves o teu espaço
Na tua membrana ausente
Recuas atrás um passo
Para depois dar dois em frente
Amuar faz bem
Amuar faz bem
Ficas descalça em casa
A fazer a tua cura
Salva por um bom amuo
De fazer má figura
Amanhã o mundo inteiro
Vai perguntar onde foste
E tu dizes apenas
Que saíste viajaste
Amuar faz bem
Amuar faz bem
Nada como um bom amuo
Apenas um bom recuo quando nada sai bem
E depois voltar
Como se nada fosse
E reencontrar o lugar
Guardado por um bom amuo”
(a letra é de Carlos Tê e pode ser ouvida aqui. A imagem é um quadro de Kirchner.)
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Dezembro é assim…
… anoitece mais cedo e mesmo que não anoitecesse ficaríamos em casa na mesma.
O computador ligado e eu resisto, sentada no sofá, enrolada numa manta, com o chá à frente… Sim, sou preguiçosa. E não gosto! Não gosto porque no fim do dia, lá para as 11h., começo a ficar angustiada… “era para ter feito a recensão crítica e não fiz”, “devia ter aspirado a casa”, “a roupa está fora do sítio”, “ainda não comecei o trabalho sobre a gratuitidade nos museus”… E vou dormir com isto tudo na cabeça. Depois tenho pesadelos.
Ser preguiçosa é para mim a causa dos meus maiores azares, como não ganhar mais, não ser muito mais culta, não fazer mais do que faço. Apesar disso a maioria das pessoas acha que faço muito: o trabalho a tempo inteiro, o mestrado (a menos tempo do que gostaria), as explicações, o budismo, a casa… Eu, acho que é pouco. Sobretudo começo a pensar se algo disto terá alguma importância.
Talvez importante seja mesmo o chá, o sofá, um cd novo a tocar, as mãos dadas…
(e prometo voltar à recensão, à gratuitidade e ir ver o filme sobre os Joy Division para a semana).
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
“Bem-vindos”, ou a arte como espelho.
A última vez que aqui escrevi estava em Macau. Foi há mais de um mês. Mas, na volta, também voltou o trabalho, o mestrado, a casa por arrumar, os jantares para fazer. É a vida! As viagens são apenas agradáveis intervalos.
Ainda assim andava com Macau engasgado, porque existem sempre coisas por escrever (e por pensar). É o caso desta exposição, com obras que foram a concurso para representarem a cidade na bienal de Veneza.
Procurei, durante quase toda a minha estadia, uma imagem que condensasse “Macau”. Procurei-a nas ruas, nas caras das pessoas, nos templos, nas paisagens. Deveria já saber que imagens dessas só se encontram nos museus. Só a arte é capaz de tal “condensação”. Escolhi a instalação da imagem e o texto que a acompanha, ambos da autoria de Key Ut Ana e Sofia Celina Lei:
“Durante um passeio com um amigo português, conversámos sobre a arquitectura portuguesa de Macau. E perguntei-lhe: “Achas que a arquitectura portuguesa de Macau é semelhante à de Portugal?”, “É semelhante em termos formais”, respondeu ele, apontando para um edifício à beira da estrada, “mas em Portugal não existem estas coisas. São horríveis!” Olhei na direcção em que ele apontava. As “coisas horríveis” a que ele se referia eram as grades nas janelas de cada andar do edifício.
Julgo que a maior parte das pessoas que, como eu, cresceram em Macau não têm opinião formada sobre as janelas gradeadas. Contudo, a observação do meu amigo levou-me a reflectir neste “hábito” particular dos residentes de Macau – por que raio havemos nós de ver o céu aos quadradinhos quando abrimos a janela?
Neste trabalho – intitulado “Bem-vindos” gostaria de utilizar as grades de janela, um traço arquitectónico peculiar de Macau, para expressar o sentimento de auto-protecção e de insegurança que as gentes de Macau sempre possuíram em demasia. As pessoas de Macau, que vivem em tais ambientes, habituaram-se gradualmente a “enclausurar-se” a si próprias
Os forasteiros sempre se admiraram com este dispositivo. No entanto, as gentes de Macau desde há muito se habituaram a esconder-se por detrás destas grades e a observar a paisagem e os vizinhos através deste prisma metálico. Nunca nos apercebemos das grades que existem, tanto no exterior das janelas como no interior dos nossos corações.
“Bem-vindos” é um convite para ver as janelas gradeadas de Macau da perspectiva de quem nos visita, como gaiolas bem à vista porém ignoradas pelas gentes de Macau – sólidas janelas gradeadas construídas no coração das gentes de Macau ao longo de várias gerações.”
Este é o texto que explica a obra.
Quanto a mim escolhi-a porque gostei das grades. Gostei destes espaços intermédios que ainda são as casas das pessoas, mas que também são espaço públicos, na medida em que são olhados, partilhados por quem passa na rua. Para mim estas construções engaioladas são bonitas e até poéticas. E adorei Macau: as ruas, as gentes, a confusão, o calor…
Não posso deixar de agradecer a todos os que me receberam e que me mostraram sítios novos: Quim, Leonor, César e Lucília. Também, e muito especialmente, à minha tia Margarida e à minha mãe. E ao meu irmão Ivo, que é o mais importante!
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Templo Kun Iam Tong
Templo budista dedicado a deusa da Misericordia foi fundado no seculo XIII, mas os edificios actuais datam de 1627. E um dos maiores templos de Macau, com um grande portao de entrada e telhados adornados com fiuras de porcelana. Patios abertos separam os pavilhoes ricamente decorados dedicados aos Tres Budas Preciosos, ao Buda da Longevidade e a Kun Iam vestida de seda bordada e uma coroa em franja que e substituida todos os anos.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
As Lanternas (de dia)
domingo, 30 de setembro de 2007
24 Horas
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Sombras à Volta de um Centro
É um livro publicado pela Assírio e Alvim, com os fantásticos desenhos de Lourdes Castro que estiveram, há uns anos, expostos em Serralves. O livro chama-se Sombras à Volta de um Centro e a imagem de cima: Sombras à volta de um centro (Geranium Robert), mede 38,5cm x 57 cm, foi desenhada a tinta-da-china e lápis de cor na Madeira, no ano de 1984 (rigor de historiadora de arte!). Segundo o livro pertencia à colecção Manuel Zimbro, que era o marido da Lourdes. São desenhos lindíssimos, de uma simplicidade quase zen de quem sabe os nomes das plantas em latim e vive na Madeira. Eu também gostava de ser assim, um dia. Enquanto isso, vejo as obras da Lourdes e bebo chá.
Mesmo na página ao lado, um texto de Manuel Zimbro:
“Simplificados por necessidades reais conjuntamente com todas as suas implicações e
possíveis adversidades,
esses exercícios que diariamente têm-de-ser-feitos: comer, dormir, vestir, trabalhar,
habitar…,
só poderão surgir plenos, reais,
sempre na primeira vez e em primeira mão,
de uma existência genuína;
da profundidade de uma observação atenta;
da incondicional confiança na fresca realidade da eterna primeira vez, onde cada agora é
sempre agora, e
não de uma qualquer noção de tempo ou modelo de existência que tradicionalmente
sejamos obrigados a aceitar como fatalidade.”
Mesmo na página ao lado, um texto de Manuel Zimbro:
“Simplificados por necessidades reais conjuntamente com todas as suas implicações e
possíveis adversidades,
esses exercícios que diariamente têm-de-ser-feitos: comer, dormir, vestir, trabalhar,
habitar…,
só poderão surgir plenos, reais,
sempre na primeira vez e em primeira mão,
de uma existência genuína;
da profundidade de uma observação atenta;
da incondicional confiança na fresca realidade da eterna primeira vez, onde cada agora é
sempre agora, e
não de uma qualquer noção de tempo ou modelo de existência que tradicionalmente
sejamos obrigados a aceitar como fatalidade.”
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
A diagonal do louco
O que é expor? Dar a ver de forma aleatória ou criar jogos, luzes, entendimentos entre obras de arte e lugares, obras de arte e espectadores? Nem todos os espaços o possibilitam, nem todas as obras o permitem, nem todos os comissários o conseguem (ou o ousam). Mas há momentos felizes, em que as obras ganham uma nova vida, os espectadores um novo olhar e os espaços mais magia: Rui Sanches em “50 anos de arte portuguesa” (na Gulbenkian e com Raquel Henriques da Silva como comissária).
O título (do post) é roubado a Hubert Damisch que diz:
“ La diagonale du fou, ou l’hypothèse du musée vu, parcouru, saissi, mais aussi bien déjoué, par la bande. » (L’amour m’expose)
O título (do post) é roubado a Hubert Damisch que diz:
“ La diagonale du fou, ou l’hypothèse du musée vu, parcouru, saissi, mais aussi bien déjoué, par la bande. » (L’amour m’expose)
Martha, Gran Suceso Mundial
Há uns anos, encontrei na Feira da Ladra, o que se pode chamar de um “libreto” de uma rumba com o meu nome. A capa é a da imagem e diz: Ediciones Musicales Júlio Korn, Buenos Aires. Por dentro tem a partitura e a letra: um mimo! Ora (à falta da música, que eu própria nunca ouvi) leiam:
Picoteando las almas
de preciosas mujeres
disfruté mil quereres
que no dejaron huella.
De lo mucho que he andado,
De lo mucho que he amado
Una flor me quedó.
Entre sus secos pétalos,
duerme mi amor.
Marta, rosa de la pradera
Eras pimpollo gentil
Esa tarde de primavera
Cuando por vez primera
tu perfume aspiré.
Marta, hoy empaña el rocio
a tus labios que fueron mios.
Mi capullo de ayer
Mi flor mustia de hoy.
Al beber mis copitas,
es mi vicio inocente
danzas tú en mi mente
al beber mis copitas
En mis oídos zumba
la nostálgica rumba
esa rumba que fué
el floreo de la rosa
que yo adoré.
Picoteando las almas
de preciosas mujeres
disfruté mil quereres
que no dejaron huella.
De lo mucho que he andado,
De lo mucho que he amado
Una flor me quedó.
Entre sus secos pétalos,
duerme mi amor.
Marta, rosa de la pradera
Eras pimpollo gentil
Esa tarde de primavera
Cuando por vez primera
tu perfume aspiré.
Marta, hoy empaña el rocio
a tus labios que fueron mios.
Mi capullo de ayer
Mi flor mustia de hoy.
Al beber mis copitas,
es mi vicio inocente
danzas tú en mi mente
al beber mis copitas
En mis oídos zumba
la nostálgica rumba
esa rumba que fué
el floreo de la rosa
que yo adoré.
domingo, 16 de setembro de 2007
Sonhemos com a evanescência
"Relatam os Taoístas que, no grande começo do Não-Começo, o Espírito e a Matéria se encontraram em combate mortal. Por fim o Imperador Amarelo, o Sol do Céu, triunfou sobre Shuhyung, o demónio da escuridão e da terra. O Titã, na sua agonia de morte, bateu com a cabeça contra a abóbada solar e despedaçou em fragmentos a cúpula azul de jade. As estrelas perderam os seus ninhos, a lua errou sem destino por entre os abismos agrestes da noite. Desesperado, o Imperador Amarelo procurou por onde pôde pelo consertador dos céus. Não teve de procurar em vão. Do mar oriental ergueu-se uma rainha, a divina Niuka, de cornos coroada e com cauda de dragão, resplandecente na sua armadura de fogo. Foi ela quem soldou o arco-íris de cinco cores no seu caldeirão mágico e reconstruíu o céu chinês. Mas também se conta que Niuka se esqueceu de preencher duas pequenas fendas no firmamento azul. Assim principiou o dualismo do amor - duas almas rolando pelo espaço e nunca em sossego até se unirem para completar o universo. Cada um tem de construir de novo o seu céu de esperança e paz.
(..) Entretanto tomemos um gole de chá. O ardor da tarde ilumina os bambus, as fontes murmuram com gosto, o sussurro dos pinheiros escuta-se na nossa chaleira. Sonhemos com a evanescência, e demoremo-nos na bela tolice das coisas."
Kakuzo Okakura, O Livro do Chá
sábado, 15 de setembro de 2007
O corpo, à prova de água
Fui mesmo ver Waterproof, de Daniel Larrieu (coreógrafo) à Piscina do Estádio Nacional. Já tinha ouvido falar de Waterproof nas aulas do António Pinto Ribeiro (onde aprendi o muito pouco que sei de dança contemporânea), porque se trata de umas das coreografias "chave" da história da dança nos anos 80. A ocupação de outros espaços como palcos onde os corpos se movimentam, neste caso a água de uma piscina.
Provavelmente tinha expectativas demasiado altas, a que o espectáculo não correspondeu na sua totalidade. Há momentos lindíssimos, mesmo poéticos. Imagens de corpos na água, tons de azul e verde. O mundo corre mais devagar. O barulho do corpo, da água, do corpo na água. Eu também gostava de experimentar...
Mas nada, ainda, superou o Bill T. Jones!!!
O sítio para onde vou
Nunca saí da Europa, pelo que não tenho tido muito contacto (a não ser pela literatura, cinema e afins) com outras gentes e paisagens.
Mas, dia 28 apanho um avião com destino a Hong Kong e depois um barco para Macau, onde estarei duas semanas com o meu irmão Ivo. Estou muito entusiasmada com esta viagem: o mosteiro dos Dez Mil Budas, o museu de Hong Kong, os mercados de flores e árvores canoras... Já estão com inveja?
Então vejam aqui...
Mas, dia 28 apanho um avião com destino a Hong Kong e depois um barco para Macau, onde estarei duas semanas com o meu irmão Ivo. Estou muito entusiasmada com esta viagem: o mosteiro dos Dez Mil Budas, o museu de Hong Kong, os mercados de flores e árvores canoras... Já estão com inveja?
Então vejam aqui...
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Dentro da arte
Visito muitas exposições. Passado um ano já não me lembro de nada. Há algumas que ficam, como as da Fundação Tapiés em BCN (a recriação da Factory!) e “Revolution my Body” na Gulbenkian. Não sei porque me esqueço dumas e lembro doutras. Acho sempre que me devia lembrar de todas, porque estudo museologia, porque gosto verdadeiramente de arte, porque sim.
Nunca terei coragem suficiente para ser artista e, provavelmente, nunca serei boa fotógrafa. Mas se a arte me persegue, se está dentro de mim, porque não hei-de eu estar dentro dela?
Mais um auto-retrato em Douglas Gordon, na Ellipse.
Nunca terei coragem suficiente para ser artista e, provavelmente, nunca serei boa fotógrafa. Mas se a arte me persegue, se está dentro de mim, porque não hei-de eu estar dentro dela?
Mais um auto-retrato em Douglas Gordon, na Ellipse.
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
Portait of a Performer
(auto-retrato em Hedi Slimane, na Ellipse Foundation)
Arte é arte. A cultura pop é a cultura pop. Hedi Slimane nunca me fotografará, mas eu fotografei-me num obra dele:
Arte é arte. A cultura pop é a cultura pop. Hedi Slimane nunca me fotografará, mas eu fotografei-me num obra dele:
“Portrait of a Performer” (ou talvez não).
sábado, 1 de setembro de 2007
Museu Agrícola (ainda a propósito da curiosidade)
Fascinam-me os objectos para os quais não se percebe, à primeira vista (de quem é leigo no assunto), a utilidade. Normalmente tratam-se até de coisas bastante práticas que tiveram uso num quotidiano mais ou menos afastado (imagino, por exemplo, um neto meu a olhar para um disco de vinil ou uma cassete!).
Procuro nestes objectos aquilo que, depois da utilidade, se torna estética. O que neles há de "objecto de museu", mas de um museu de arte em que a utilidade é posta de lado e o objecto (não sendo contudo artístico) adquire um carácter, se quisermos, poético.
Foi o que me aconteceu no encontro com estas alfaias agrícolas, em Casebres, num passeio com o meu tio Francisco. Segundo ele vieram da ex-União Soviética para a cooperativa local, nos anos 80, com o objectivo de ajudarem na reforma agrária. Hoje em dia, já não são utilizadas e estão ali, ao sol, a ganharem aquela cor fastástica do ferro (?) envelhecido. Não sou muito boa fotógrafa, mas se fosse acho que dariam boas imagens.
Também não sei a denominação de todas, mas a última é uma semeadora: punham-se as sementes nos cilindros grandes e depois estas caiam por uns cones mais pequenos. Todas estas máquinas (tirando a mó) iam atreladas a tratores que também lá estão. Quem souber o que são as outras máquinas e como funcionam, pode dar umas dicas...
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Museus, por Don Delilo
Este Verão fiz uma recensão crítica sobre um texto de Hopper-Greenhill que trata a questão dos museus e dos seus visitantes. A certa altura ela diz que as pessoas não vão a museus por se sentirem vigiadas, nomeadamente pela presença dos guardas, mas também através das câmaras de segurança aí colocadas. Ela aproxima portanto o museu às estruturas de poder e vigilância que Foucault trata em “Vigiar e Punir”:
Seria interessante procurar e recolher em literatura não específica, referências à instituição “museu” e, ao voltar a Don Delilo (“Os Nomes”), cruzei-me com isto:
“ – Não consegue arranjar ninguém em Atenas?
“ – Fui adquirindo um ar preocupado. As mulheres julgam que quero levá-las aos museus.
“ – Não gosto de museus. Os homens seguem-me sempre nos museus. O que se passa nesses lugares? De cada vez que me volto há uma pessoa a observar-me.”
(Don Delilo, Os Nomes, Público/colecção Mil Folhas, 2004, pág.157)
Seria interessante procurar e recolher em literatura não específica, referências à instituição “museu” e, ao voltar a Don Delilo (“Os Nomes”), cruzei-me com isto:
“ – Não consegue arranjar ninguém em Atenas?
“ – Fui adquirindo um ar preocupado. As mulheres julgam que quero levá-las aos museus.
“ – Não gosto de museus. Os homens seguem-me sempre nos museus. O que se passa nesses lugares? De cada vez que me volto há uma pessoa a observar-me.”
(Don Delilo, Os Nomes, Público/colecção Mil Folhas, 2004, pág.157)
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Apa linpingupuapagempem dospos pêspes
Apaprenpendipi espestapa linpinguapagempem quanpandopo ainpidapa eperapa cripianpançapa. Conponsispistepe empem copolopocarpar, empem frenpentepe depe capadapa sípilapabapa, upumapa repetipiçãopão dapa mespesmapa maspas ipinipiciapada porpo umpum pêpê. Nunpuncapa maispais mepe lempembreipei, atépé quepe lipi Donpon Depelipilopo, empem “Os Nomes” (Ospos nopomespes). Nespestepe lipivropo o fipilhopo dapa perpesonapagempem prinpincipipalpal, compom sepetepe apanospos fapalapa a linpingupuagempem dospos pêspes.
Trapatanpandopo-sepe depe umpum lipivropo sopobrepe apa linpingupuapagempem epi ospos vápáripiospos tipipospos depe alpafapabepetopo, nãopão deipeixapa depe serper cupuripiosopo epi dápá ipimenpensapa vonpontapadepe depe repetirpir apa propoepezapa! Épé supuperper dipiverpertipidopo! Apafipinalpal depe conpontaspas a linpingupuapagempem épé umpum jopogopo!
Tampambémpém apa repevispistapa “Cabinet” tempem umpum núpumeperopo depedipicapadopo apa linpingupuapagempens inpinvenpentapadaspas!
Quempem soupouberper maispais apavipisepe!
Trapatanpandopo-sepe depe umpum lipivropo sopobrepe apa linpingupuapagempem epi ospos vápáripiospos tipipospos depe alpafapabepetopo, nãopão deipeixapa depe serper cupuripiosopo epi dápá ipimenpensapa vonpontapadepe depe repetirpir apa propoepezapa! Épé supuperper dipiverpertipidopo! Apafipinalpal depe conpontaspas a linpingupuapagempem épé umpum jopogopo!
Tampambémpém apa repevispistapa “Cabinet” tempem umpum núpumeperopo depedipicapadopo apa linpingupuapagempens inpinvenpentapadaspas!
Quempem soupouberper maispais apavipisepe!
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Para quem me "ensinou" Ruy Belo pela voz do Luís Miguel Cintra
"Contigo aprendi coisas tão simples como
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhastes súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já a minha única viúva
Não posso dar-te mais do te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente."
Ruy Belo, "Contigo aprendi coisas tão simples"
Para Mais poesias ver aqui.
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhastes súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já a minha única viúva
Não posso dar-te mais do te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente."
Ruy Belo, "Contigo aprendi coisas tão simples"
Para Mais poesias ver aqui.
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
A Primeira Raposa
Nas manhãs em que o céu cinzento (mesmo que seja de um cinzento muito claro) ameaça tornar-se mais carregado, não vou à praia. Prefiro outros caminhos, mais estreitos, mais escondidos e que nunca os meus pés pisaram antes. Ás vezes (demasiadas vezes, mesmo) não conhecemos a rua do lado, a esquina mais adiante ou o caminho menos habitual. Por isso, quando estou de férias (mesmo que seja num sítio para o qual vou habitualmente), gosto das manhãs cinzentas em que não vou para a praia.
Foi o que aconteceu desta vez, em que decidimos ir dar uma caminhada pelo percurso que desce da praia do Monte Velho, em Santo André, e se dirige para sul, sempre paralelamente à costa. Tem um caminho de terra batida e algumas placas do Instituto de Conservação da Natureza a indicarem o que podemos ver, como por exemplo: poço do Barbaroxa de Baixo, Duna Móvel ou outras indicações sobre a flora e a fauna locais.
Mas quanto a raposas, as placas não faziam referência. Por isso, foi um momento quase mágico quando o I. se virou para trás e a viu.
Como qualquer raposa ela não se fez anunciar, caminhava atrás de nós, meio escondida, em pezinhos de lã e com a necessária distância. Mesmo assim, foi simpática, deixou-se fotografar várias vezes e seguiu-nos durante algum tempo. E era mesmo bonita!
Fiquei muito feliz com esta minha primeira raposa, ou não me chamasse eu Marta!
Praias desertas
Já há muito que não vou às praias de Lisboa. Primeiro o trânsito, depois a praia cheia, os miúdos do lado com as músicas do telemóvel, a mulher a ralhar com os filhos, as colónias de férias, os cães dos outros… Não. Desculpem lá, mas já não consigo.
Espero o ano inteiro pela boa semana a que tenho direito e, graças a algumas boas almas a quem desde já agradeço, consigo ter algum descanso numa praia em que, pelo menos, dez metros me separam do próximo chapéu-de-sol!
E, se não for preguiçosa, ainda tenho direito a uma praia deserta. Como esta em que tomei banho!
(Sim, é em Portugal, mas eu não digo onde!)
Espero o ano inteiro pela boa semana a que tenho direito e, graças a algumas boas almas a quem desde já agradeço, consigo ter algum descanso numa praia em que, pelo menos, dez metros me separam do próximo chapéu-de-sol!
E, se não for preguiçosa, ainda tenho direito a uma praia deserta. Como esta em que tomei banho!
(Sim, é em Portugal, mas eu não digo onde!)
domingo, 5 de agosto de 2007
A Curiosidade
O texto de Foucault (e a revista Cabinet) fizeram que me voltasse a debruçar sobre a curiosidade. Pode ser a curiosidade o início do conhecimento? Se não existir vontade de perguntar, poderá haver vontade de responder, de encontrar?
Podemos descobrir se existe um ponto em que colocamos perguntas, ou temos dúvidas? Como se pudesse haver uma fronteira que separasse o local onde tudo está tranquilo, daquele em que começamos a perguntar, e as águas se começam a agitar. Do ponto de vista da educação em museus, penso que este conceito deve ser o mote de partida: ensinar a curiosidade! Poder, por exemplo, fazer uma visita em que os participantes encontrassem perguntas em vez de respostas. Às vezes parece que essa capacidade é a que mais falta, como se todo o mundo fosse um dado adquirido, um terreno já conhecido e o nosso cérebro tivesse perdido a capacidade de desenhar pontos de interrogação.
Terá mesmo perdido?
Quanto a mim, que vou de férias, prometo voltar a este assunto.
Procuram-se perguntas!
Podemos descobrir se existe um ponto em que colocamos perguntas, ou temos dúvidas? Como se pudesse haver uma fronteira que separasse o local onde tudo está tranquilo, daquele em que começamos a perguntar, e as águas se começam a agitar. Do ponto de vista da educação em museus, penso que este conceito deve ser o mote de partida: ensinar a curiosidade! Poder, por exemplo, fazer uma visita em que os participantes encontrassem perguntas em vez de respostas. Às vezes parece que essa capacidade é a que mais falta, como se todo o mundo fosse um dado adquirido, um terreno já conhecido e o nosso cérebro tivesse perdido a capacidade de desenhar pontos de interrogação.
Terá mesmo perdido?
Quanto a mim, que vou de férias, prometo voltar a este assunto.
Procuram-se perguntas!
A curiosidade, segundo Foucault
“ A curiosidade é um novo vício que foi estigmatizado pelo cristianismo, pela filosofia e até por uma certa concepção de ciência. Curiosidade, futilidade. A palavra, no entanto, agrada-me. Sugere-me algo completamente diferente: evoca “preocupação”; evoca o interesse que cada um tem pelo que existe e pode existir; uma disponibilidade para encontrar o estranho e o singular naquilo que nos rodeia; uma certa teimosia para quebrar o que nos é familiar e para olhar de outra forma as mesmas coisas; um fervor de captar o que acontece e o que passa; uma negligência em relação à hierarquia tradicional do importante e do essencial. Sonho com uma nova era da curiosidade. Temos os meios técnicos para isso: o desejo está lá; as coisas por conhecer são infinitas, as pessoas que se podem dedicar a esta tarefa existem. Porque sofremos? Por muito pouco: canais demasiado estreitos, acanhados, quase monopolistas, insuficientes. Não faz sentido adoptar uma atitude proteccionista, impedir a “má” informação de invadir e sufocar a “boa”. Em vez disso temos que multiplicar os caminhos e as possibilidades de idas e vindas.”
Excerto de uma entrevista de Michel Foucault, publicado na revista Cabinet
Excerto de uma entrevista de Michel Foucault, publicado na revista Cabinet
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
Richard Serra
Até 10 de Setembro está patente no MoMA de N.Y. uma exposição retrospectiva do artista Richard Serra. Para quem não consegue lá ir, como eu, vale a pena visitar o site que apresenta a mostra.
Os trabalhos de Serra - esculturas de grandes dimensões em aço - dificilmente podem ser "visitadas" a não ser in loco, mas aqui conseguimos ter uma quase perfeita percepção das obras. Vale a pena perder algum tempo com os vídeos, perceber o tamanho das esculturas, as cores, os percursos... e também um bocadinho do céu de Nova Iorque!!!
E já agora - porque também gosto das fotografias dos artistas - ver (e ouvir) o próprio Serra!
Para quando sites de museus e de exposições assim em Portugal?
A minha lista de desejos
Há um item no blog que se chama "lista de desejos". Podemos adicionar ao nosso perfil uma dessas listas, onde colocamos o que mais gostaríamos de ter. Pois bem, tentei fazer a minha lista de desejos e não consegui! O link vai ter a uma loja on-line que não vende o que mais quero ter. Deve haver outra maneira de fazer a tal lista mas por falta de tempo (ou de jeito) não consegui nada a não ser através da tal loja.
Vejamos: comecei por procurar por "ervas aromáticas" porque gostava de ter um jardim de ervas aromáticas (mesmo que fosse em vasos) com alecrim, salsa, coentros, etc. Mas só me apareceram frascos com comprimidos lá dentro! Que desilusão! Depois procurei por bungavília e nada apareceu, palavra não é conhecida e a planta muito menos.
Dos meus desejos, estes eram os únicos que poderia "materializar" em imagens e mesmo assim não consegui! Imaginem os outros!
Parece que a felicidade não está no espaço virtual.
Vejamos: comecei por procurar por "ervas aromáticas" porque gostava de ter um jardim de ervas aromáticas (mesmo que fosse em vasos) com alecrim, salsa, coentros, etc. Mas só me apareceram frascos com comprimidos lá dentro! Que desilusão! Depois procurei por bungavília e nada apareceu, palavra não é conhecida e a planta muito menos.
Dos meus desejos, estes eram os únicos que poderia "materializar" em imagens e mesmo assim não consegui! Imaginem os outros!
Parece que a felicidade não está no espaço virtual.
terça-feira, 31 de julho de 2007
sexta-feira, 27 de julho de 2007
Para o meu irmão Ivo
Lembro-me muito bem do momento em que tirámos esta fotografia. A mãe dizia: "Segura na cabeça do mano, Martinha!". E eu ali, com o "quelidinho" nos braços, sem saber muito bem como lhe pegar. Afinal ainda tinha 3 anos e tu tinhas acabado de nascer.
De alguma maneira é como se eu própria não existisse antes disso: a primeira memória que tenho de mim é precisamente o momento em que te vi no berçário. Ia com o pai, que me pegou ao colo e, no meio de tantos bébes, eu soube logo que tu eras aquele de chucha azul. Intuição de irmã mais velha!!
A partir daí foram muitas as partilhas - boas e más!
De facto, temos algumas contas a ajustar, como por exemplo teres-me partido a televisão que o tio Venâncio nos tinha dado. Lembras-te? Tocava música e passava uma imagem de uma miúda a andar de skate, com um cão a abanar a cauda atrás! Gostava muito de voltar a ter uma dessas televisões... Também tínhamos ideias parvas, como aquela em que pensámos num plano mirabolante para conseguirmos ter um cão. Consisitia num caminho de açúcar até nossa casa que o "suposto" cão iria lamber até que, distraído, se encontrasse lá dentro. Depois, era só inventar uma desculpa para os pais! Felizmente nunca levámos o plano avante: imagina a invasão de formigas!!!
Mas tu és o meu irmão e por isso, mais até do que aos outros, sempre perdoei as mordidelas nos braços, os brinquedos desaparecidos, os amuos... Sem ti também não me tinha divertido tanto, não tinha aprendido a partilhar vidas e segredos. Depois, quando os pais se divorciaram sempre fomos o apoio um do outro e, sobretudo o núcleo da família que permaneceu intacto (com a avó e o avô, claro!).
Agora continuamos a ter uns 30cm. de diferença, mas ao contrário da fotografia, és tu o mais alto!
De alguma maneira é como se eu própria não existisse antes disso: a primeira memória que tenho de mim é precisamente o momento em que te vi no berçário. Ia com o pai, que me pegou ao colo e, no meio de tantos bébes, eu soube logo que tu eras aquele de chucha azul. Intuição de irmã mais velha!!
A partir daí foram muitas as partilhas - boas e más!
De facto, temos algumas contas a ajustar, como por exemplo teres-me partido a televisão que o tio Venâncio nos tinha dado. Lembras-te? Tocava música e passava uma imagem de uma miúda a andar de skate, com um cão a abanar a cauda atrás! Gostava muito de voltar a ter uma dessas televisões... Também tínhamos ideias parvas, como aquela em que pensámos num plano mirabolante para conseguirmos ter um cão. Consisitia num caminho de açúcar até nossa casa que o "suposto" cão iria lamber até que, distraído, se encontrasse lá dentro. Depois, era só inventar uma desculpa para os pais! Felizmente nunca levámos o plano avante: imagina a invasão de formigas!!!
Mas tu és o meu irmão e por isso, mais até do que aos outros, sempre perdoei as mordidelas nos braços, os brinquedos desaparecidos, os amuos... Sem ti também não me tinha divertido tanto, não tinha aprendido a partilhar vidas e segredos. Depois, quando os pais se divorciaram sempre fomos o apoio um do outro e, sobretudo o núcleo da família que permaneceu intacto (com a avó e o avô, claro!).
Agora continuamos a ter uns 30cm. de diferença, mas ao contrário da fotografia, és tu o mais alto!
Para mim serás sempre o mano mais novo assim como, para ti, eu sou a mana galinha e piegas! ( O que aliás este texto comprova!)
Beijinhos!
Beijinhos!
quarta-feira, 25 de julho de 2007
Paciência
Há dias asim, em que não temos nada para dizer e parece que também ninguém tem nada para nós.
Este blog está atrasado, o tempo é pouco e as ideias também não são muitas... Porque mesmo para elas é preciso tempo. Gostava dessa imagem do David Linch, quando associava as ideias ao peixe que morde o anzol: nunca sabemos quando vai acontecer, mas sabemos que é preciso saber esperar.
A escrita demora, é lenta e os escassos minutos estre uma e outra tarefa não chegam. O computador anda ocupado com coisas mais importantes e as fotos não são decarregadas, os textos não são escritos e o I. tem a minha pen. Enfim...
Hoje tenho uma hora de daimoko e, pelos vistos, estou mesmo a precisar!
Este blog está atrasado, o tempo é pouco e as ideias também não são muitas... Porque mesmo para elas é preciso tempo. Gostava dessa imagem do David Linch, quando associava as ideias ao peixe que morde o anzol: nunca sabemos quando vai acontecer, mas sabemos que é preciso saber esperar.
A escrita demora, é lenta e os escassos minutos estre uma e outra tarefa não chegam. O computador anda ocupado com coisas mais importantes e as fotos não são decarregadas, os textos não são escritos e o I. tem a minha pen. Enfim...
Hoje tenho uma hora de daimoko e, pelos vistos, estou mesmo a precisar!
Jean Seberg
Devia ter uns cinco anos. Nessa altura a minha mãe gostava de me cortar o cabelo curtinho, principalmente antes do Verão. Íamos ao Humberto, o cabeleireiro que ficava na rua da minha avó Maria(acho que ainda lá está). Era um acontecimento para as minhas tias, pois nessa altura ainda era a única menina da família.
Um dia, depois de um desses cortes, a minha tia Margarida disse:
-Que querida! Pareces mesmo a Joyce Beck!
A Joyce Beck - foi o que os meus ouvidos de cinco anos perceberam! E perguntei quem era essa tal de Joyce Beck, ao que a minha tia respondeu:
- Não é a Joyce Beck! É a Jean Seberg!
Fiquei na mesma! Até que um dia descobri Godard...
Um dia, depois de um desses cortes, a minha tia Margarida disse:
-Que querida! Pareces mesmo a Joyce Beck!
A Joyce Beck - foi o que os meus ouvidos de cinco anos perceberam! E perguntei quem era essa tal de Joyce Beck, ao que a minha tia respondeu:
- Não é a Joyce Beck! É a Jean Seberg!
Fiquei na mesma! Até que um dia descobri Godard...
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